Trabalhadores bancários e dirigentes sindicais do setor têm cobrado insistentemente do sistema financeiro brasileiro uma postura condizente com a gravidade da pandemia do coronavírus, que assusta o Brasil e o mundo. Segundo eles, os bancos privados, principalmente, têm se esquivado da adoção de medidas eficazes na lida com o problema.
É essa a opinião do presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, Augusto Vasconcelos, por exemplo. Para ele, o sistema financeiro deve dar sua real contribuição ao país, neste momento, uma vez que, só no ano passado, os cinco maiores bancos lucraram R$ 106 bilhões, “o que é uma cifra inimaginável em qualquer país do mundo”, segundo ele.
Para Augusto, as instituições financeiras podem ajudar “reduzindo tarifas, juros, alongando prazos de pagamento, criando carências mais amplas pra que as pessoas possam ter acesso a empréstimos de longo prazo”, por exemplo.
O dirigente sindical diz que a exceção são os bancos públicos, responsáveis por operacionalizar as ‘tímidas’ medidas do governo para conter a crise causada pelo coronavírus. Para ele, o momento traz uma reflexão sobre a necessidade da presença do Estado na economia.
“Essa é a importância dos bancos estatais. Imagina se, em um momento como esse, o Brasil não tivesse uma Caixa, um Banco do Brasil, o BNB e o BNDES? No momento em que o mercado se retrai, vão lá os bancos públicos e injetam mais recursos na economia, como aconteceu em 2018, na crise das hipotecas imobiliárias”, defendeu.
A pandemia serve, ainda de acordo com o presidente do Sindicato dos Bancários, para “desmascarar as teses neoliberais, que apontam para um mercado naturalmente equilibrado, baseado em uma suposta livre concorrência, o que nós sabemos que é uma falácia, diante do poder dos oligopólios”. Para ele, a crise prova que é preciso um Estado atuante e com capacidade de planejamento.
“Mas o principal, a meu ver, é uma reforma tributária que aponte pra uma contribuição maior do capital financeiro, mediante pagamento de tributos, como por exemplo o imposto de renda sobre lucros e dividendos, imposto sobre grandes fortunas, tributação de heranças”, disse. “Com essa arrecadação teríamos mais recursos para o Brasil usar em períodos de calamidade e no combate à desigualdade. Isso seria muito mais eficaz do que cortar direitos dos trabalhadores como propõe o governo”, concluiu.