O ex-ministro Geddel Vieira Lima admitiu, durante audiência de custódia realizada nesta quinta-feira (6), ter realizado mais de 10 ligações para a esposa do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, preso há mais de um ano, a senhora Raquel Funaro. A tese levantada pelo Ministério Público Federal (MPF) é que Geddel estaria atrapalhando as investigações ao tentar evitar que o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Lúcio Funaro firmassem acordo de delação premiada com o MPF. Apesar de ter admitido as “mais de 10” ligações, Geddel negou que o teor das chamadas seriam no sentido de oferecer acordos, propina, pressão ou qualquer benefício que contrarie a lei. “Não houve sondagem. Não houve absolutamente nada. As ligações eram realizadas para tratar de assuntos cotidianos. Era um ‘como vai você? Como está sua filha?’”, esbravejou Geddel. Quando questionado quem era o autor das ligações, Geddel afirmou que, eventualmente, os dois realizavam as chamadas. “Ela ligava pra mim, eu ligava para ela”, disse o ex-ministro dos governos Dilma e Temer, que negou contatos com Cunha no período do último ano. A defesa de Geddel questionou a materialidade e o rito em que a prisão preventiva foi realizada, sendo que a ação apenas é proferida em últimos casos pela Justiça. Para o advogado Gamil Föppel, a esposa de Funaro deveria ter sido ouvida antes mesmo do encarceramento de Geddel ter sido requerido pelo MPF. Tal fato, agora, acaba postergando uma possível decisão da Justiça de, ou revogar a prisão preventiva, ou minorá-la para uma medida preventiva, como prisão domiciliar e uso de tornozeleira. Föppel ainda contestou a isonomia do caso, tendo em vista que o ex-assessor do presidente Michel Temer, Rodrigo Rocha Loures, cumpre medida preventiva a mando do Supremo Tribunal Federal (STF). “Loures foi solto substituindo sua prisão preventiva por medidas cautelares. A presunção de inocência existe para todos e a situação de Geddel é menos complicada: não tem imagem dele carregando mala para onde quer que seja e o senhor Geddel está preso e o senhor Rocha Loures está solto”, protestou o advogado, que ressaltou que o ex-ministro está há oito meses sem ocupar cargo público e mantém compromissos com a Justiça. A defesa também contestou a ação da Justiça, que foi realizada um dia antes do início do recesso do Judiciário, que ocorreu na última segunda-feira (3) e irá perdurar até dia 31 deste mês. A realização do depoimento de Raquel Funaro a este momento, de acordo com o advogado de Geddel, pode remodelar o teor de seu depoimento. “Além disso, todos saberão as impugnações que a defesa fará. A essa altura, é óbvio que essa senhora dirá que se sentiu intimidada [com a ligação de Geddel]”, repugnou. O ex-ministro se manteve emocionado a todo o momento. Segurando o choro, Geddel disse que o maior objetivo dele, a este ponto, é que o seu filho, conhecido como Geddelzinho, continue carregando o seu nome. Com relação a cumprir medidas preventivas, Geddel declarou que irá cumprir a decisão proferida pelo juiz Vallisney Oliveira. “Não tomarei nenhum passo que venha a retornar a esse imenso constrangimento que eu estou tendo pessoalmente e moralmente”, afirmou ressaltando que, após a divulgação do áudio pelo empresário Joesley Batista, “já estava praticamente em prisão domiciliar”. “Eu saía mais da minha casa apenas para resolver algumas coisas e para levar meus filhos um pouco para ver a luz do sol com o pai”, disse.