Por Altamiro Borges
Motivo de desconfiança na imprensa internacional, Jair Bolsonaro deu mais um tiro no pé nesta semana ao indicar Ernesto Araújo, um sujeito obscuro e com jeitão de aloprado, para o estratégico cargo de ministro das Relações Exteriores. Entre as “contribuições intelectuais” do novo chanceler já se descobriu que ele é um admirador fanático de Donald Trump, tratado como a nova “salvação do Ocidente”, e um inimigo hidrófobo das esquerdas e do PT, rotulado de “Partido Terrorista”. Em tom de chacota, o jornal britânico The Guardian estampou no título: “Novo chanceler brasileiro acredita que as mudanças climáticas são um plano marxista”. Há dúvida apenas se Ernesto Araújo é um completo idiota ou um mero oportunista – ele pode ser também um oportunista idiota!
Além do vexame mundial, a indicação causou vergonha no próprio serviço diplomático, conforme registrou a jornalista Lisandra Paraguassu da agência Reuters. “A reação de diplomatas que atuam no Itamaraty foi a pior possível à indicação de Ernesto Araújo como novo ministro das Relações Exteriores, com alguns deles avaliando que houve uma quebra de hierarquia e um desrespeito à instituição, disseram fontes ouvidas pela Reuters. Promovido a ministro de primeira classe – o nome técnico do topo da carreira, o chamado embaixador – apenas no primeiro semestre deste ano, Araújo é considerado um diplomata excessivamente júnior para o cargo, no que foi visto como uma quebra de hierarquia sem precedentes no Itamaraty”.
Conforme lembra a reportagem, o nome de Ernesto Araújo só surgiu como possível chanceler durante a campanha eleitoral. Ele só veio à tona quando o diplomata, que ocupava o cargo de chefe do Departamento dos EUA e Canadá – um cargo de terceiro escalão no Itamaraty –, criou um blog de apoio escancarado a Jair Bolsonaro. Num primeiro momento, o oportunista só obteve o respaldo dos filhos do fascista. Parte da equipe do presidente eleito, como o general da reserva Augusto Heleno e o próprio vice, general Hamilton Mourão, sugeriu outros nomes. “Acabou vencendo, no entanto, a postura ideológica de Araújo, apesar de Bolsonaro bater constantemente na tecla que quer uma política externa sem ‘viés ideológico’”, informa a Reuters.
“Araújo fez a fama dele junto à equipe do Bolsonaro em cima de um artigo de política externa extremamente controverso, em que faz uma defesa apaixonada do presidente norte-americano, Donald Trump. ‘Que capacidade de ação terá a diplomacia brasileira com ele à frente?’, disse uma das fontes. ‘Aos olhos do mundo, a política externa brasileira passará a ser comandada por um discípulo do trumpismo’. Uma outra fonte, apesar de menos incisiva, vai na mesma linha. ‘Ele deixa o Itamaraty refém de uma doutrina que acaba sendo um pouco apaixonada demais para o nosso padrão. Há um discurso de alinhamento automático (com os Estados Unidos) contrário à nossa tradição e aos nossos interesses’, explicou”.
Além do alinhamento automático com os EUA, o “discípulo do trumpismo” e seguidor oportunista de Jair Bolsonaro trará prejuízos ao Brasil por suas teses alopradas. Será encarado como um “fenômeno” nativo nos fóruns diplomáticos internacionais. A revista Exame, com uma pitada de sarcasmo, reuniu algumas da maluquices do novo chanceler brasileiro. Vale conferir e se envergonhar:
– Sobre mudanças climáticas:
O climatismo é basicamente uma tática globalista de instilar o medo para obter mais poder. O climatismo diz: ‘Você aí, você vai destruir o planeta. Sua única opção é me entregar tudo, me entregar a condução de sua vida e do seu pensamento, sua liberdade e seus direitos individuais. Eu direi se você pode andar de carro, se você pode acender a luz, se você pode ter filhos, em quem você pode votar, o que pode ser ensinado nas escolas. Somente assim salvaremos o planeta. Se você vier com questionamentos, com dados diferentes dos dados oficiais que eu controlo, eu te chamarei de climate denier e te jogarei na masmorra intelectual. Valeu?
Sobre o projeto “antinatalista” da esquerda:
A esquerda (de modo muito claro no Brasil, mas também em outras partes) sabe que está perdendo a luta no terreno político-econômico, devido à sua opção preferencial pela corrupção e à sua incompetência na gestão pública. Diante disso, tenta levar o debate para o terreno da metapolítica e se concentra na pauta do aborto, da “laicidade”, da diversidade, da ideologia de gênero, da racialização da sociedade, da imigração irrestrita.
Todas essas bandeiras se conjugam sob o conceito do antinatalismo. A esquerda se define, hoje, como a corrente política que quer fazer tudo para que as pessoas não nasçam. Aborto, criminalização do desejo do homem pela mulher, contestação do “patriarcado” e da diferenciação entre os sexos, desmerecimento da reprodução, sexualização das crianças e dessexualização ou androginização dos adultos, demonização de qualquer defesa da família ou do direito à vida do feto como “fundamentalismo religioso”, desvalorização da capacidade gestativa da mulher, tudo isso aponta num único sentido: não nascer. É triste, é difícil de entender, mas não há como não enxergar essa mensagem e objetivo no programa da esquerda.
Sobre o Partido dos Trabalhadores:
Deixado a si mesmo, o ser humano cria e produz, ama e constrói, trabalha e confia, realiza-se e projeta-se para a frente. Então não pode. O PT (que aqui significa não apenas “Partido dos Trabalhadores”, mas também Projeto Totalitário ou Programa da Tirania) não pode deixar o ser humano a si mesmo.
Como você faz isso? Culpando. Criminalizando tudo o que é bom, espontâneo, natural e puro. Criminalizando a família sob a acusação de violência patriarcal. Criminalizando a propriedade privada. Criminalizando o sexo e a reprodução, dizendo que todo ato heterossexual é estupro e todo bebê é um risco para o planeta porque aumentará as emissões de carbono. Criminalizando a fé em Deus. Criminalizando o bom-humor e a piada… Criminalizando os filmes da Disney. Criminalizando o amor aos filhos e aos ancestrais. Criminalizando o petróleo ou qualquer energia eficiente e barata. Criminalizando a existência do ser humano sobre a terra. Criminalizando a justiça para proteger os corruptos.
A única coisa que o Projeto Totalitário não criminaliza é o próprio crime e os próprios criminosos. Ou seja, o PT criminaliza tudo, menos a si mesmo.
Sobre fake news:
Fake news é o poder da grande mídia de selecionar e reorganizar os fatos para induzir os leitores a uma certa reação pré-determinada. Quem é contra as fake news, como Trump, quer limitar esse poder da única maneira possível: chamando a atenção do público para sua existência e dando o máximo de liberdade para as fontes de informação alternativa, capazes de reunir e apresentar os pedaços de fatos que a grande imprensa recortou e jogou fora (…)
A esquerda apoderou-se da expressão fake news e girou-a para o outro lado, passando a utilizá-la para atacar justamente as fontes alternativas de informação (redes sociais, Youtube, etc). “Cuidado com as fake News” passou a ser um pretexto para censurar e calar as vozes que tentam trazer ao público aqueles enormes pedaços da realidade que a grande mídia controlada pela esquerda desprezou, porque não correspondiam à narrativa que ela quer promover. (…)
Sobre raça e imigração:
Já o racialismo – isto é, a divisão forçada da sociedade em raças antagônicas – e o imigracionismo irrestrito convergem para um antinacionalismo completo. O parentesco etimológico entre nascimento (de nasco, nascis, natum) e nação (de natio, nationis) corresponde a um parentesco lógico e sentimental. Nação é uma comunidade de nascimento, um corpo de pessoas nascidas em certo espaço cultural e físico – mais cultural do que físico – e que se ligam através de seus ancestrais também nascidos naquele espaço, bem como aos seus descendentes por nascer, o que proporciona ao conceito um sentido de continuidade no tempo.
Sobre “mitos” e a teoria do “fim da história” de Francis Fukuyama:
“No Brasil, o mito está tocando a história e fazendo-a renascer. Esse toque é raríssimo e precioso. Apenas o mito empresta vitalidade à história. O marxismo, que quer encerrar a aventura humana (por saber que nessa aventura o homem acabará encontrando a Deus), odeia por isso o mito, e consequentemente planeja o fim da história.
A “utopia” marxista tem por objetivo eliminar toda as contradições da vida humana, criando a sociedade comunista e promovendo o fim da história. Sim, o fim da história é a uma meta marxista. A globalização triunfante que, no início dos anos 90, proclamou o fim da história, não estava senão enunciando um conceito marxista. Mais do que isto: sem o saber, estava hasteando a bandeira comunista ao mastro de uma nova sociedade universal materialista.”