Sete dias se passaram desde os médicos confirmaram a morte cerebral do estudante Kaique Moreira Abreu, 22 anos. Ele foi internado depois de ser agredido com um soco no rosto na sexta-feira se Carnaval, e morreu cinco dias depois. Amigos e familiares se reuniram na noite desta terça-feira (20) em uma missa de sétimo dia pelo jovem, na Paróquia da Ressureição do Senhor, em Ondina.
A movimentação na igreja começou a aumentar a partir das 19h quando os amigos e familiares começaram a chegar. Quase todos os presentes foram vestidos com uma camiseta com a foto do estudante. O movimento atraiu a atenção de quem passava pela região. “Esse é o caso do rapaz que foi agredido na Graça, no Carnaval?”, perguntou uma mulher na entrada do templo. “Esse caso é muito triste, sobretudo pela maneira como aconteceu”, afirmou outra senhora.
A missa começou às 19h45. As leituras bíblicas falaram de ressureição, da importância de fazer o bem e do amor ao próximo. O padre pediu que todos dessem as mãos e rezassem um Pai Nosso. A missa terminou com abraços e uma salva de palmas. A tia de Kaíque, Patrícia Moreira, disse que o jovem era caseiro e que esteve na casa dela um dia antes de ser agredido. O filho dela era um dos jovens que estava com o estudante no dia em que o crime aconteceu.
“Ele e meu filho são como irmãos. Ele esteve lá em casa na quarta-feira, um dia antes de ir para o Carnaval, e falou dos planos que ele tinha. Kaíque era um menino muito engraçado, divertido. É muito difícil para a gente. É difícil para quem presenciou, para quem conheceu, imagine para os familiares e para os pais? Dói muito. É uma dor inexplicável. Eu sei que isso acontece no dia a dia, com muitas pessoas, mas a gente nunca imagina que vai acontecer com alguém da nossa família”, afirmou.
A família autorizou a doação de órgãos de Kaíque. Segundo a Central de Transplantes da Bahia, foram aproveitados os dois rins, as duas córneas e o fígado. Cinco pacientes foram salvos com a ação. O amigo da vítima, Igor Aquino, contou que os familiares ainda estão se acostumando com a ideia de não ter mais o estudante por perto.
“Os familiares pediram essa missa em lembrança do nosso anjo Kaíque que lá no céu deve estar. No momento, a dor é maior que qualquer sensação, a família ainda está anestesiada e muito sentida com tudo o que está acontecendo na vida deles. A ficha ainda está caindo. Acreditávamos que a maior dor teria sido durante o ocorrido, mas estamos percebendo que a maior dor ainda está por vir, que é a rotina, o dia a dia, em que notamos a ausência dele”, disse.
Kaíque estava cursando o 7º período do curso de engenharia mecânica. Ele morava em Lauro de Freitas, com os pais. O jovem deixou o pai, a mãe e um irmão.
O crime
Às 23h30 da sexta-feira de Carnaval, Kaíque saiu da casa de um amigo, na Rua Manoel Barreto, na Graça, na companhia de um primo e mais três amigos para o circuito Dodô (Barra/ Ondina). Durante a folia, ele se perdeu do grupo e decidiu voltar para casa, sozinho. Às 3h, o estudante estava a menos de 500 metros do imóvel quando foi surpreendido com um soco no rosto. Ele caiu e ainda levou um chute do agressor. Toda a ação foi registrada por uma câmera de segurança.
Nas imagens, é possível ver quando um homem se aproxima de Kaíque e acerta o estudante. Em seguida, o agressor chuta a vítima e foge em um caminhão. Edson Rodrigues dos Santos, 27 anos, foi preso pelo crime alguns dias depois, em casa, no bairro de Capelinha de São Caetano.
Edson teve o pedido de liberdade negado pela Justiça (Foto: Almiro Lopes/ CORREIO)
Segundo a polícia, dois adolescentes estavam com Edson no momento do crime, além do motorista do caminhão e de outro homem ainda não identificado. A polícia identificou os suspeitos depois de localizar o veículo. O motorista Bruno Ribeiro Fernando Batista, 30, foi o primeiro a ser encontrado e levou os investigadores até a casa de Edson, na Capelinha de São Caetano. O pintor foi preso em casa. Um dos adolecentes, de 15 anos, foi apreendido, e o outro ainda é procurado.
Kaíque foi socorrido por uma família que passava pelo local. Uma das pessoas que ajudaram com o socorro foi uma médica, que aguardou a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) às 3h30. O estudante deu entrada no Hospital Português desacordado. Depois de passar cinco dias internado, nesta quarta (14), os médicos informaram para a família que Kaíque teve morte cerebral.