21 de abril de 2025
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Saúde

Falta de testes e assintomáticos são ‘calcanhar de Aquiles’ do Brasil

Pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul, à frente do Epicovid19-BR, primeiro estudo nacional sobre o avanço do novo coronavírus, divulgaram os resultados da pesquisa “Covid-19: Várias epidemias em um país só” na última terça-feira (26).

O levantamento, feito com apoio do Ministério da Saúde, alertou para a subnotificação de casos no Brasil. Segundo o Epicovid19-BR, o estado de São Paulo, por exemoplo, teria 380 mil pessoas com anticorpos para a doença, enquanto o governo estadual contabiliza cerca de 38 mil casos de acordo com os números mais recentes.

A primeira fase do Epicovid19-BR, realizada entre os dias 14 e 21 de maio, já apontava que o número de casos no país seria sete vezes maior do que os divulgados pelas autoridades.

De acordo com Pedro Hallal, coordenador do Epicovid-19, “o grande calcanhar de Aquiles” no enfrentamento da epidemia no Brasil é a baixa testagem para a doença. “Comparado a outros países, ainda testamos muito pouco, e de forma seletiva, priorizando casos mais graves.”

No evento de divulgação da pesquisa, Fernando Barros, professor emérito da UFPel, afirmou que não é possível prever se o Brasil atingiu ou não o pico da curva de contágios, e chamou atenção para a subestimativa do transmissão por assintomáticos, ou seja, de pessoas que pegaram a covid-19, mas que não desenvolvem os sintomas, como febre e tosse.

“Não conseguimos nenhuma informação de que tenhamos chegado a um ponto em que a curva de contágios fará uma inflexão. O impacto dos casos não estimados é o seguinte: se a pessoa não sabe que está doente, ela vai para as ruas e contaminará outras.”

A fase mais contagiosa é a pré-sintomática, por isso a importância de se fazer muitos testes e isolar positivos.

Fernando Barros, professor emérito da UFPel

Para Barros, o maior obstáculo do país para isolar os focos de contágio é a densidade demográfica. “Fazer isso é difícil em um país com mais de 200 milhões de pessoas durante a fase aguda da doença. Os países que conseguiram controlar melhor a epidemia, como Finlândia e Singapura, são evidentemente menores. No nosso caso, fica muito mais difícil isolar a infecção e abafar os focos”

De acordo com o Ministério da Saúde, 460.102 testes moleculares (RT-PCR) foram realizados até o momento, de um total de 24 milhões prometidos para este ano. Durante o mês de abril, um balanço do Our World Data colocava o Brasil em 60º lugar no ranking de testes por países.

Como a estimativa é feita

Segundo os pesquisadores, a testagem usada no estudo — produzida pela fabricante Wondfo e doado ao Brasil pela Vale — possui probabilidade de falso negativo entre 14% a 15% e falso positivo de 0,2%. Os pesquisadores fizeram 25.025 entrevistas e testes para o coronavírus em 90 cidades. Em cada uma delas, pelo menos 200 pessoas foram testadas por sorteio para descobrir se têm anticorpos para o vírus.

A proporção de pessoas que têm ou já tiveram o coronavírus foi estimada em 1,4%. Levando em conta um cenário populacional de 209,5 milhões de habitantes, a probabilidade é de que mais de 2 milhões tenham contraído a doença.

Cidades mais afetadas

A pesquisa também apontou as regiões mais afetadas pela transmissão do coronavírus. As 15 cidades com maiores índices da doença incluem 11 da Região Norte, 2 do Nordeste (Fortaleza e Recife) e 2 do Sudeste (Rio de Janeiro e São Paulo). De acordo com Fernando Barros, a intensidade da transmissão em determinadas cidades é proporcional aos lugares onde o vírus chegou antes.

“Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza e Manaus foram grandes hubs de transmissão. Sabemos que houve pessoas contaminadas mais cedo.”

Em cidades como o Rio Grande do Sul, que já começa a relaxar medidas de distanciamento social, o alerta é para pessoas que têm contato com grupos de risco, podendo ocasionar um novo pico da pandemia.

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