“Desafios financeiros não devem limitar os nossos sonhos”. A frase, ensinada desde muito cedo pela mãe para Ana Carla Carlos, de 30 anos, parece ter tido um efeito muito mais forte do que dona Ana Cristina talvez pudesse imaginar. Criada no bairro de Cajazeiras, em Salvador, ela passou “apertos” financeiros e convivia com realidades diferentes todos os dias. E mudar a vida das pessoas, hoje, é seu propósito de vida.
Nascida em Brasília, mas baiana de coração, Ana Carla está prestes a dar um passo grandioso na carreira: um mestrado no exterior. Foi aceita em seis faculdades espalhadas pela Terra e escolheu uma suíça, mas o sonho custa caro. “Faltam cerca de R$ 95 mil. Por isso, decidi criar uma vaquinha virtual”. O valor inclui desde as passagens, visto, até os custos com moradia, alimentação, saúde e transporte nos primeiros 12 meses.
A doação pode ser feita através do link www.catarse.me/ajude_ana_a_estudar_na_suica. Será aceito qualquer valor acima de R$ 20. Os doadores receberão recompensas, que dependem da quantia doada. Quem quiser doar valores abaixo de R$ 20 tem a opção de fazê-lo diretamente em conta bancária. Outras formas de ajudar a Ana é participando do bazar de livros e do brechó, com produtos custando entre R$ 5 e R$ 40.
Todos os valores recebidos serão atualizados manualmente na ferramenta Catarse. Dados bancários e informações sobre as formas alternativas para doação podem ser conferidas também no perfil que a jovem criou no Instagram -@ajudeanaaestudar.
POR QUAL MOTIVO AJUDAR?
Ana é brasiliense, mas veio com apenas dois anos para a capital baiana com a mãe, Ana Cristina, hoje com 51 anos, quem a criou sem muita participação do pai. Depois de Cajazeiras, a família se mudou para Mussurunga.
Mesmo com os “apertos” das dificuldades financeiras, a mãe nunca mediu esforços para dar uma educação de qualidade à filha, que estudou em colégios particulares de Salvador. “Eu convivia com colegas que estudavam em escolas públicas e vivia em uma realidade totalmente diferente da escola particular. Aí eu vi que, no futuro, eu tinha a missão de fazer alguma coisa para que outras pessoas também tivessem as oportunidades que eu tive”.
“Sempre quis entender sobre redução de desigualdade; como que se configura a pobreza e como não só o governo, mas, outros atores, podem ajudar. Queria compreender um pouco mais como que diferentes países resolvem seu problemas de políticas públicas e outros não”.
Esses questionamentos levaram Ana a ingressar no curso de Relações Internacionais, o qual concluiu em 2014. Fez traduções, foi recepcionista em eventos e vendeu capas de celular e pendrives na faculdade. Conquistou dois intercâmbios, fez uma especialização em gestão de projetos e trabalhou como consultora, por quatro anos, no Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Com metas traçadas para ir cada vez mais longe, começou a se dedicar, no ano passado, ao ingresso em um programa de mestrado. Foi aceita em seis universidades estrangeiras. Duas nos Estados Unidos, incluindo a Universidade de Chicago, que está entre as dez melhores do mundo, duas na Holanda, uma na Áustria e a escolhida, o Instituto Universitário de Altos Estudos Internacionais (IHEID).
“Escolhi o IHEID porque, além de ser um programa de excelência, o local é especial, por ficar na cidade de Genebra, que é a sede europeia das Nações Unidas [ONU]. Então, é um celeiro de troca de experiências e muitas iniciativas para reduzir desigualdades e garantir direitos de todas as pessoas”, explica a internacionalista.
CORONAVÍRUS
Ana teve retorno das universidades no período de fevereiro a maio deste ano, mas, em virtude da pandemia do novo coronavírus, alguns prazos foram adiados. A estimativa, agora, é viajar em setembro.
“Acredito que para todos os estudantes internacionais têm sido um cenário muito adverso, porque os consulados estão fechados e as próprias universidades estão buscando alternativas. Mas, no meu caso, para além da pandemia, tem uma questão financeira que é muito difícil”. Para ela, estudar no exterior é mais desafiador para os brasileiros, em razão da falta de oportunidades, de bolsas, e também pelo câmbio. O euro está cotado em R$ 5,69.
“Não importa seu CEP, se você veio de Cajazeiras ou de Plataforma. A gente tem o direito de conseguir oportunidades melhores. Enquanto o sonho existe, a gente não pode desistir”, conclui.