Entidades e mandatos políticos denunciaram ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos as violações sofridas por parlamentares negras e transexuais eleitas no Brasil. Um apelo foi enviado nesta sexta-feira (29), dois dias após a covereadora Carolina Iara (PSOL) ter sua casa alvejada na madrugada de quarta-feira (27).
A parlamentar socialista é a primeira pessoa intersexo eleita no país e integra o mandato coletivo Bancada Feminista, composto por seis pessoas. Imagens de câmeras de segurança mostram um veículo branco se aproximar da casa de Carolina às 02h07. Três minutos depois é possível ver pés caminhando com pressa até o veículo, a pessoa manobra o carro e sai do local.
As informações são da jornalista Mônica Bergamo, colunista do jornal Folha de S.Paulo. De acordo com a publicação, o apelo enviado à Organização das Nações Unidas (ONU) é assinado pela Coalização Negra por Direitos, pelo Instituto Marielle Franco, pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), além da Justiça Global e Terra de Direitos. Os mandatos da vereadora Erika Hilton (PSOL), do coletivo Bancada Feminista e do coletivo Quilombo Periférico, todos da Câmara Municipal de São Paulo, também assinam o documento.
“Infelizmente, tais episódios representam um conjunto de atos sistêmicos de violência política que são cotidianamente praticados contra mandatos eleitos de mulheres negras, em especial mulheres negras transexuais, no Brasil”, diz a carta, que menciona o assassinato de Marielle Franco, em 2018, no Rio de Janeiro.
No mesmo dia dos tiros contra a casa de Carolina, a vereadora Erika Hilton abriu um boletim de ocorrência após ser surpreendida por um homem que se identificou como “garçom reaça”. A vereadora estava em seu gabinete. Esta foi a segunda vez, em duas semanas, em que Erika afirma ter sentido sua segurança ameaçada dentro da Câmara.
O apelo à ONU solicita que autoridades do estado de São Paulo esclareçam o caso aos relatores especiais da entidade e que essas autoridades se comprometam a adotar políticas públicas que garantam a proteção e o exercício dos direitos políticos das parlamentares. Também é solicitada a criação de mecanismos e políticas públicas para extinguir a reprodução de violência política que dificultem o engajamento de mulheres negras e transexuais e travestis na política institucional no Brasil.