Ainda não há um medicamento específico para o tratamento da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus – embora a hidroxicloroquina esteja sendo estudada para essa finalidade. Por isso, a pessoa doente depende unicamente da ação do sistema imunológico para se recuperar.
A transmissão do vírus acontece de pessoa para pessoa, pelo contato com gotículas contaminadas presentes na saliva, na tosse, no espirro e no catarro.
Após o contágio, o coronavírus entra nas células das vias respiratórias. Todo vírus é envolvido por uma capa de proteína e gordura. A capa do coronavírus tem o formato de uma coroa feita de espinhos – daí vem o nome “corona”.
“Ele usa essa proteína da capa para se acoplar na receptor da célula, abrir a célula e entrar”, esclarece o especialista.
Após a entrada, o RNA – material genético do coronavírus – vai até o núcleo da célula. “Ele usa o núcleo para fabricar outros vírus, é o que a gente chama de ‘replicação’. A partir disso, ele sai desta célula e ataca outras”, descreve.
A reação do organismo
A invasão faz com que o sistema de alerta do organismo seja ativado. Esse mecanismo identifica o agente estranho, no caso o coronavírus, e aciona os linfócitos T, conhecidos como glóbulos brancos – células de defesa do organismo. Essas células verificam em suas ‘memórias’ se já possuem anticorpos para o invasor. “Nesse caso, elas não têm, porque esse é um vírus novo, então chamam os linfócitos B para fazer a produção”, explica Fiss.
De acordo com ele, 80% das pessoas conseguem produzir anticorpos rapidamente e se recuperam. Entretanto, a outra parcela demora para realizar a produção e começa a ter uma reação inflamatória à ação do coronavírus. Essa situação desencadeia um efeito cascata.
“Um monte de substâncias são produzidas. Elas causam uma inflamação que ocorre nos brônquios, nos pulmões e nos alvéolos pulmonares”, afirma.
Fiss explica que tais substâncias ocupam os espaços entre os alvéolos e o sangue. Por isso, o oxigênio não consegue passar e as pessoas sentem falta de ar.
A morte, como já se sabe, é a consequência mais grave de todo esse processo. “Acontece quando a infecção pelo vírus se dissemina para outros órgãos e causa a falência múltipla”.
Uma possível sequela
Segundo o especialista, a sequela mais importante que pode acometer os sobreviventes é a fibrose pulmonar. “Se a reação inflamatória dura por muito tempo, causa danos no pulmão. Depois esse dano cicatriza e dá a fibrose”, descreve.
“Mas ela acontece numa porcentagem muito pequena de pacientes internados. De todos os casos que eu vi até agora, nenhum evoluiu com fibrose”, ressalta.