A entrevista do empresário Paulo Marinho a Monica Bergamo é uma nova demonstração do enfraquecimento do bolsonarismo junto à fatia da elite brasileira que alavancou sua candidatura presidencial e agora ensaia movimentos de ruptura.
Depois de proteger Bolsonaro em 2018, sabotando um pacto democrático que poderia ter assegurado a vitória de Fernando Haddad na reta final, quando a ameaça de uma candidato a ditador já estava no horizonte, uma parcela do patamar superior da pirâmide inicia um novo curso.
Iniciado com a saída de Sérgio Moro, que levou consigo as conexões nacionais e internacionais que a Lava Jato permitiu e o Departamento de Estado estimulou, o processo seguiu em frente com uma nova postura na mídia grande, com uma mudança no eixo editorial das Organizações Globo, Folha e Estado.
Como a entrevista de despedidas de Moro, a entrevista de Paulo Marinho tem o valor das denúncias feitas a partir de dentro. A entrevista envolve o segundo turno de 2018 e conta uma história com começo, meio e fim. Revela uma escandalosa operação da Polícia Federal, no Rio de Janeiro, sob medida para beneficiar o candidato a senador Flavio Bolsonaro e por tabelo pai, Jair Bolsonaro.
Com a única finalidade de impedir o desgaste dos dois candidatos adiou-se o nício da operação Furna da Onça, que tinha Flávio Bolsonaro e seu amigo e assessor Fabrício Queiróz como alvos. Com isso, numa decisão tomada às claras, conforme Marinho, impediu-se que os votos destinados a pai e filho mudassem de direção, o que poderia ter beneficiado Fernando Haddad.
A entrevista não só apresenta a narrativa de um crime eleitoral, de uma gravidade imensa, pois envolve a manipulação da soberania popular por autoridades policiais. Cem milhões de brasileiros e brasileiras votaram no escuro porque a Polícia Federal assim decidiu.
O depoimento de Paulo Marinho ajuda a esclarecer a verdadeira obsessão deJair Bolsonaro com o organismo onde a trama se produziu, o comando da PolíciaFederal no Rio de Janeiro. Nas últimas semanas, na medida que empurrava Sérgio Moro para fora do governo, Bolsonaro também precisava retirar seu homem de confiança, Maurício Valeixo, da direção-geral da PF. Embora tenha tomado posse após a mudança de governo, Valeixo certamente acumulou um bom conhecimento de fatos e versões ocorridos naqueles dias decisivos para a construção da tragédia política que hoje atormenta o país inteiro.
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