Por: Marcelo José
Quando eu cursei história pela Universidade Federal da Bahia, uma das primeiras perguntas que os meus professores me fizeram foi: Quando um aluno te perguntar (era um curso de licenciatura) o porquê dele ter de estudar história, o que você responderia? A pergunta retórica foi respondida pela própria professora com uma frase que nunca esqueci: “Diga que se estuda história para compreender o presente e evitar cometer erros do passado no futuro”. Como bem dizia Marc Bloch a história é o estudo do homem do tempo.
Hoje esse ensinamento não poderia ser mais atual. Prenderam ontem o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva por supostamente possuir um apartamento no qual nunca passou uma noite, não possuía as chaves nem tinha um objeto pessoal seu ou de sua família, com base em um contrato apócrifo (sem assinaturas) encontrada em um gaveta de um executivo e em uma delação premiada que havia sido rejeitada por falta de provas mas aceita apenas no que diz respeito a Lula. Eles não se deram ao trabalho nem de alterar muita coisa da última narrativa empregada.
Em 1963 o ex-presidente Juscelino Kubitscheck foi acusado de possui um triplex em Ipanema. Basta dar uma pesquisada no jornal Correio da Manhã de Abril de 1963 para perceber que ‘coincidentemente’ Kubitscheck liderava o cenário das pesquisas eleitorais com quase 40% dos votos válidos (lembra de alguém?) . Foram mais de 120 horas de jornal da Globo falando sobre o edificil Kubitscheck . Aí veio o golpe militar com a justificativa de varrer a maior epidemia de corrupção da história do Brasil (parece familiar?) e culpabilizando Juscelino pela recessão e desemprego anteriores. Em 1965 teve seu mandato de Senador cassado e foi ameaçado de prisão. O editorial do Jornal O Globo afirmava que “As medidas excepcionais tomadas dão uma lição para um prospero futuro sem corrupção” .
Em 1968 já com o Golpe Militar consolidado, uma nota de canto de página (ao contrário das reportagens de página inteira com as acusações) anunciava o arquivamento da denúncia por inconsistência de provas. O estrago porém já estava feito.
Em pleno ano de 2018 o roteiro se repete! Sem força para realizar uma nova intervenção militar (que não teria apoio internacional), a rede Globo se aliou a alguns membros do poder judiciário e realizou uma das mais sangrentas caçadas usando as mesmas formulas empregadas contra Kubitscheck. Manobraram as massas contra uma presidente honesta e casaram-lhe o mandato sem prova de crime (como fizeram com JK no senado) e achincalharam o presidente Lula pressionando até a eletiva prisão do mesmo por mais uma vez ter um suposto Triplex.
O roteiro Global porém tem motivo certo: as eleições. Não tardará para que assim como JK foi denunciado e inocentado, Lula prove a sua inocência, como já o fez mas foi negado pelo TRF-4. Mas a que custo? Qual custo que o Brasil terá que arcar por essa proposital letargia judicial em enxergar o obvio?
Defender Lula nunca foi tão importante como agora. Independente do candidato que será apoiado pela esquerda ou pela centro-esquerda, precisamos resistir. Não pode-se permitir que projetos extremistas que já provocaram o caos e a amplificação das desigualdades sociais em 1964 (militares) até 1998 (FHC 2) retornem. Como diz Marialva Barbosa, na sua obra “A História Cultural da Imprensa” , precisamos tirar a população do seu ciclo de “dormência” provocada pela “anestesia da visão simplificadora e parcial” da imprensa.
Quando os poderes se desequilibram a ponto de cidadãos como o Lula perderem a liberdade por meras conveniências interpretativas e politicas, ficamos mais distante daquele Brasil que queremos e mais próximos da barbárie de divisão social e desigualdade. Como dizia Montesquieu “Quando poderes equilibradas não o são, mais próximos da Barbárie está a nação”
Defender Lula é defender a democracia , é defender o direito de ir e vir. É defender todos os negros e negras, favelados e faveladas, que são encarcerados sem prova, sem processo legal, em um país que não respeita sua própria constituição. Se um homem como Lula, com tanto apoio popular, e com uma consistente argumentação jurídica contra os frágeis indícios que foram apresentados foi condenado sem prova, qual de nós será o próximo? Quem nos garante que “olhar torto” para uma “autoridade judiciária” não nos renderá uma prisão preventiva por incitar a desordem Pública?
Tenho 24 anos e a democracia que eu quero e preciso para meus descendentes não é uma democracia ‘faz de conta’ onde juízes fazem o que querem, mas sim uma democracia que como a constituição de 1988 prega seja um verdadeiro porto seguro de bem-estar social e desenvolvimento para todos e todas.
Vamos abrir os olhos enquanto é tempo! Lula livre já !
Marcelo José