A desigualdade social é um fator que contribui para o contágio do novo coronavírus no Brasil, que demorará “muito tempo” para retomar os hábitos anteriores à pandemia. É o que afirmou hoje o médico e escritor Drauzio Varella no programa UOL Debate que discutiu o momento atual do vírus no país.
“Nós estamos pagando o preço da desigualdade social. Sempre encaramos isso com naturalidade. Vamos pagar o preço de termos construído estádios na Copa (do Mundo de 2014) que hoje estão sendo transformados em hospitais. Não sabemos como a epidemia vai se disseminar em um país com essa desigualdade social. Sabemos o que está acontecendo em países ricos. No Brasil, não, agora que nós vamos saber. E pode ser terrível”, disse Drauzio, que ainda não faz previsões para que a população retome a rotina anterior à pandemia
“Tínhamos visão benigna da epidemia, mas estamos numa situação de guerra. Esquece a vida normal, ela não vai existir por muito tempo. Não vai ser normal porque não poderá ser. Daqui a quanto tempo vai acontecer? Não tenho ideia, ninguém tem ideia.
Na prática, estamos aí, quando começou? Em dezembro, em janeiro sabemos de lá. Tem três meses, é impossível fazer previsões sobre o futuro”, acrescentou o médico, defendendo o Sistema Único de Saúde (SUS) no combate ao novo coronavírus (a partir de 53min no vídeo). “A realidade é muito dura. Ainda bem que temos o SUS, que todo mundo xinga, que não serve para nada. Imagina agora se não teria (Hospital Albert) Einstein? E se não existisse o SUS, para onde eu iria?”, questionou.
Morro de medo quando veja as UTIs que conheci no Norte, Nordeste. É muito precária a assistência médica oferecida” Drauzio Varella.
Em meio à mudança de rotina da população, profissionais de área médica defendem medidas como o isolamento social para evitar uma situação ainda mais perto do limite no sistema de saúde. Ainda assim, a pandemia vai aproximar hospitais da saturação — e as diferenças sociais do Brasil mais uma vez devem se fazer presentes neste momento. “O confinamento e o isolamento social permitem à gente não ter nossa capacidade excedida. Hoje, nos ambientes a que tenho acesso, não estão saturados ainda. As projeções estão mais para o início da segunda quinzena de abril.
A única forma de mitigar é o isolamento. Existe uma chance muito grande de o confinamento de duas semanas fazer com que a capacidade não seja excedida e o sistema não entre em colapso, pelo menos em São Paulo. Os dados estão mostrando que, no setor público, começou depois.
A disseminação ainda não aumentou de maneira descontrolada”, disse Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.