Tem mulher no pagode baiano. Mas quando um grupo de estudantes resolveu propor como tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) as vozes femininas enquanto protagonistas no segmento, não encontraram referências.
Escrito e dirigido pelas estudantes de Jornalismo Beatriz Almeida, Joyce Melo, Giovana Marques e Tainá Góes, a minissérie documental Pagodão: A Cena por Elas mostra ao público a então desconhecida face do ritmo baiano. Traz à tona o protagonismo e a representatividade que as mulheres têm no pagode, ainda que não haja registros científicos disso.
Com lançamento previsto para quarta-feira (18), no Centro Vale do Dendê, Pagodão dá voz a artistas como Allana Sarah, a Dama do Pagode. Exceção entre as mulheres da cena, ela soma no YouTube quase quatro milhões de visualizações.
Co-diretora, Beatriz Almeida comenta que, ao abordar o tema 20 anos após os primórdios – bem sucedidos – do pagode baiano, o documentário nasce como uma proposta inovadora.
“A realização da minissérie é algo disruptivo, tanto para a produção audiovisual brasileira, quanto para a realidade do pagode baiano, que até então tinha nomes femininos muito tímidos e pouco valorizados”, defende.
Ao Blog do Lau, a estudante enfatiza que o grupo começou a questionar, então, onde estavam as cantoras do pagodão. “A maioria das pessoas não conheciam mulheres pagodeiras, além da Dama do Pagode. A gente percebe que nossas interseções são muito potentes. De como isso impactou a vida delas é muito forte”.
Pagodão por Elas
Elas são Aila Menezes, Rai Ferreira, Daiane Leone, a estourada Dama do Pagode e Fernanda Maia, vocalista e percussionista da banda Afrocidade – todas protagonistas do documentário, com ingressos à venda a R$ 10.
Embora defenda o pagode como uma manifestação cultural para além do ritmo, Aila afirma, contudo, que há uma hiperssexualização no meio. “Ser mulher no pagode é ser resistência, persistência, é lutar contra correnteza”, pontua, ao atribuir a realidade ao machismo estrutural.
Sob a mesma perspectiva, Joyce Melo destaca que as mulheres até apareciam na cena, mas em posições de pouco destaque. “Sempre nos papéis coadjuvantes. Como dançarinas, backing vocals e limitadas ao papel da ‘piriguetes’”.
Ao relacionar o machismo com a pouca ascensão de bandas lideradas por vozes femininas, a co-diretora garante que A Cena Por Elas marca o início de uma década que será, sim, lembrada pela presença das mulheres.