Por Shayana Busson
A presença da ex-presidente Dilma Rousseff na Itinga, em 22.10.22, me trouxe emoções especiais. Lembranças de uma trajetória de ascensão, dor, desrespeito, machismo e revanche parcial.
Dilma ao mesmo tempo que representou a primeira mulher com o cargo de maior status de liderança no país, foi escurraçada de seu cargo, e desapropriada politicamente de seus poderes.
A tentativa de humilhar o gênero feminino é quase sempre muito sutil, e não foi diferente com ela. Ninguém citou o fato dela ser mulher para humilhá-la, simplesmente, a corja de “pirus aloprados” inventou um fato econômico/jurídico justificante, inventou, é isso.
Nesse caso, nem 54 milhões de votos foram capazes de tornar o poder feminino estável.
Após um aumento de gasolina, Dilma também sofreu vexame sexual, mas dizem que não foi por ser mulher, e sim pq era presidente. Colaram uma foto adesivada de suas pernas abertas nas bombas de gasolina dos carros. Aquilo era tão chocante, e escancarou a sociedade que ainda tenta nos reduzir a sexo e vagina, mesmo que estejamos no maior posto de decisão política do país e da América Latina.
E pq antes nunca colaram adesivos de homens parlamentares com suas partes íntimas “arregaçadas”?
Dos 33 presidentes que já tivemos em nossa história, nenhum foi mais emblemático para representar a vergonha que senti de ser brasileira.
Fui a Itinga toda buscando um sorriso de Dilma, e tomei toooodas, pois, ainda que Dilma talvez nunca mais seja restituída em seu cargo de presidenta, queria demonstrar que a corrente feminista, da Itinga à Brasília, tem consciência de seu papel histórico revolucionário, e não vai parar de reverter o sistema falocêntrico mediocrizado pelo desprezo ao outro, nesse caso à outra, nós mulheres.
O legado de obras que Dilma deixou no meu bairro são as provas de que mais mulheres no poder fazem toda a diferença na moradia, na alimentação e na vida do próximo.
Shayana Busson é moradora da Itinga.