Por que mulheres lutam?
Ângelo Cavalcante
Já não é novidade! O feminismo com todas as suas nuanças é força necessária e decisiva para toda e qualquer luta anticapitalista; aliás, é parte definitiva de uma nova cultura de enfrentamento ao capital ou seguiremos sendo extintos aos montes, aos milhares e milhões.
Desta feita, o feminismo deve avançar no mesmo sentido, rumo e direção; não pode haver nenhum tipo de luta por igualdade entre homens, mulheres e seres humanos sem uma firme e dialógica consciência de gênero, de sexo e do seu lugar em uma arruinada sociedade de classes feito a nossa.
Os dados econômicos são evidentes! As mulheres são os principais instrumentos de acúmulo de capital, ou seja, a imensa parte da riqueza do mundo não se deu por mecanismos da telemática, da liberalização da economia ou do avanço dos meios comunicacionais! Balela… A grande matriz produtora e reprodutora de capitais do mundo e que define a tragédia do tempo contemporâneo se assenta na pilhagem e nos genocídios da colonização e que se converte em neocolonização; na escravidão pura e simples ou quem sabe, velada e; é claro, na exploração perpetua das mulheres em jornadas duplas, triplas e simultâneas. Quero dizer que a mulher amamenta o filho, faz o arroz, limpa a casa e transa com o marido… Tudo ao mesmo tempo… É incrível!
O velho argumento de que mulheres desempenham as mesmas funções que homens e percebem no máximo sessenta por cento das rendas do “macho alfa” da empresa permanece absolutamente atual e perturbador!
O machismo? Ora, pois… O machismo não é só a subjugação pura e simples conduzida por um homem contra uma mulher; e essa mulher pode ser esposa, filha, amiga ou uma desconhecida. Antes fosse só isso… Bem mais, é um instituto social, cultural e político resistente ao tempo, às instituições e aos movimentos; é essencialmente conservador e que não admite a alteração, por menor que seja, do “status” historicamente submetido, inferiorizado e esvaziado da mulher para níveis distintos e superiores de atuação e realização.
Machismo é controle; é poder elaborado e especificamente dirigido e direcionado. É sutil ou não; é eficaz, eficiente, cotidiano e moderno. Por sinal, resistiu a revoluções e transformações sociais e permanece… Presente, ativo e vigoroso.
A religião, o matrimônio, o trabalho, os contratos empregatícios, os padrões de beleza, os rigores de ferro e sangue da sexualidade patriarcal, a mídia e as culturas de massa são os agentes prioritários e primordiais por onde flui os “pacotes” ideológicos do machismo e que, como é do seu feitio, produz/reproduz comportamento, valores, sensibilidades, desumanidades e civilizações inteiras.
Por fim… O feminismo como fenômeno político de reação ao patriarcado é objetivamente reação a todas as sociedades de classes; por sinal, as classes e o bizarro mundo que engendram e formam são a grande base que alimenta e atualiza o machismo no Brasil e no mundo.
Para o caso brasileiro somos tristemente carimbados com um trágico tipo de ‘feminicidio’ que, além de promover milhares de abusos de toda sorte, estupros em escala fabril e assédios dos mais diversos, nos amaldiçoa com mais de trinta mil assassinatos de mulheres ao ano e é impressionante… É como se isso não nos dissesse o menor respeito.
Por fim, mulheres trabalham mais e ganham menos; consomem mais e possuem de menos; são maioria na sociedade e não possuem representações nos parlamentos e, de fato, não possuem; são mães que não vislumbram futuro para si e para seus filhos; são filhas que nada ou muito pouco podem fazer por seus pais e entes queridos; são esposas e amantes que, não raro, não tem direito ao próprio corpo e aos bons devaneios do gozo.
Por isso o oito de março, por isso a luta política, por isso um mundo de justiças e de igualdades ou… Nada feito! Tomara que as mulheres destruam pedra por pedra desse mundo velho! Contem comigo…
Ângelo Cavalcante – Economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Itumbiara.