O último debate eleitoral deste primeiro turno em Salvador – os prognósticos todos apontam que será também o único turno – poderia ser marcado por ser o primeiro no qual o atual prefeito e candidato à reeleição ACM Neto (DEM) participou. Contudo, após uma hora e meia de pouca discussão interessante, salve raros momentos que se destacaram mais pela irreverência que pela consistência, a saída da Rede Bahia acabou sendo palco ou arena dos protagonistas do evento desta noite quinta-feira (29) e madrugada de sexta (30) antevéspera da eleição.
Desde cedo, a reportagem do Bocão News chegou ao local às 19h30, as claques do DEM e PCdoB ensaiavam brigas. Bandeiras disparadas em direção aos rivais, homens e mulheres vociferando urros e xingamentos e se “plantando” (como se diz na Bahia) uns para outros como se um trio elétrico passasse e a Federaçãoe fosse a Barra ou o Campo Grande em pleno Carnaval. O presságio era de que não acabaria bem e não acabou.
Enquanto a zuada das dezenas de ‘kombis-som’ estacionadas ao longo da Rua Aristes Novis ecoava por todo o bairro, os quatro candidatos com o privilégio de “discutirem” a cidade num espaço nobre da televisão brasileira se ajeitaram no estúdio, sorriram para o mediador Alexandre Garcia (menos Isidório) e traçaram suas estratégias para o chamado debate final. O enredo de dentro foi avaliado como positivo pelo quarteto.
Na saída, Claúdio Silva (PP), disse que conseguiu enviar a mensagem proposta: pensar diferente. Sobre ter restringido as perguntas ao prefeito e candidato à reeleição numa dobradinha visível para todos os que acompanharam o parco debate organizado pela emissora, o pepista afirmou que queria discutir a cidade com quem estava falando sério sobre projetos. Depreciou as brincadeiras e denominações irônicas dos adversários se referindo, sem citar nomes, a Alice Portugal (PCdoB) e Sargento Isidório (PDT).
O prefeito ACM Neto que direcionou todas as suas perguntas ao pepista também usou o mesmo argumento. Foi sarcástico quando instado a comentar se o “jogo” havia sido previamente combinado. “Lógico que não”. Obviamente a adaptação foi feita assim de momento, no entanto, com a bola levantada foram feitos inúmeros gols. Ponto para o democrata que não viu ou assistiu suas intenções de votos decrescerem por participar ou não dos outros debates.
O fato de o impacto na opinião pública ser irrisório quando o assunto é debate deve mobilizar discussões para as próximas eleições, entretanto, neste último a candidata do PCdoB também saiu se dizendo vitoriosa. “Eu precisa falar no debate. E o prefeito não conseguiu responder à pergunta nuclear do debate. O seu escândalo de corrupção na prefeitura”. Alice só perguntou a Neto uma vez depois adotou a estratégia de conversar, nem sempre sobre o mesmo assunto, com Isidório.
Mas o “doido” que de doido não tem nada ganhou exposição ao discutir, logo de início, com o mediador Alexandre Garcia. Ler ou não a Biblía durante um debate para prefeitura foi o tema da discussão. A despeito de ter sido interrompido, o deputado estadual candidato passou o tempo todo defendendo o governador Rui Costa e tocando o barco. Na saída, disse que se sentiu prejudicado pelo apresentou a quem acusou de ter cometido um ato deliberado de intolerância religiosa.
Nada será feito no sentido judicial. Não pelo candidato, tampouco pelos outros. Os últimos dois dias de campanha vão transcorrer como os outros. Não fosse o fato que aconteceu do lado de fora da Rede Bahia. Por lá, as claques deixaram de lado a discussão e partiram para a briga. O interessante é que os defensores de Alice gritavam para os de Neto dizendo que do lado de lá estavam pessoas contratadas para fazer o agito.
Do lado de Alice não eram poucos os assessores e militantes que trabalham em gabinetes de vereadores, deputados estaduais e federais do partido, portanto, também remunerados para tanto. Ou seja, trabalhadores brigando pelas bandeiras daqueles que melhor lhes remuneram ou representam. Enquanto os candidatos se cumprimentavam cordialmente ao entrarem em seus luxuosos carros, a polícia agiu com a dose já conhecida para resolver um problema criando outro e dispersou os pequenos aglomerados.
A turma das bandeiras 25 se amontoaram nas kombis que se a Transalvador parasse daria uma multa pela lotação enquanto os das bandeiras 65 fizeram a mesma coisa. Os polícias detiveram dois fotógrafos pediram com pouca cordialidade para que as fotos feitas do momento da confusão fossem apagadas ali na frente deles e ameaçaram levar um deles, como testemunha, para a delegacia. Depois de muita conversa liberam o fotógrafo.
O debate em si não mudará muitos votos, quase nenhum na conta dos próprios candidatos, contudo, esta política de picuinha de claque, outra vez, demonstra como a democracia por aqui anda abalada. Seja pelas torcidas do lado de fora, pelas regras impostas pela emissora para atender a interesses específicos, pela ausência de uma discussão mais interessantes e pela restrição de participação de todos os candidatos.
O fim do período eleitoral se aproxima e com ele pouca chance de mudança efetiva no modo de fazer a política.