Até 24,7 milhões de trabalhadores podem perder o emprego por causa da pandemia de coronavírus, afirmou nesta quarta (18) a Organização Internacional do Trabalho (OTI).
O impacto nesse cenário pessimista seria pior que o da crise global de 2008, que destruiu 22 milhões de vagas, afirmou a agência da ONU.
“Não é só mais uma crise global de saúde, é uma crise global do mercado de trabalho”, disse o diretor-geral da OIT, Guy Ryder.
Ryder afirmou que a crise requer ação ampla e urgente dos governos. No melhor dos cenários, a OIT estima que 5,3 milhões percam o emprego como resultado direto da pandemia.
Nos cálculos da agência, a contração do mercado de trabalho provocada pela pandemia pode tirar do bolso dos trabalhadores até US$ 3,4 trilhões (cerca de R$ 17 trilhões) até o final deste ano -valor que equivale a mais que o dobro do PIB brasileiro do ano passado.
A perda de renda deve ter impacto direto no consumo, agravando ainda mais a crise, segundo Ryder.
O efeito da pandemia no mercado de trabalho já ficou claro nas estimativas recentes do setor de viagens americano e em decisões tomadas por companhias aéreas e montadoras, alguns dos setores em que o impacto da pandemia foi agudo.
Um estudo da Oxford Economics encomendado pelo setor de viagens americano estima até 3,6 milhões de demissões como efeito direto da epidemia, e o setor hoteleiro pode fechar outros 4 milhões, segundo a Associação Americana de Hotelaria e Hospedagem.
Na Europa, até a tarde desta quarta, todas as grandes montadoras já haviam anunciado a paralisação de suas unidades na Europa. Fiat, Ferrari, Lamborghini, Seat, Jaguar Land Rover (as três últimas do grupo VW), Renault, PSA (que produz Peugeot, Citroen, Vauxhall, Opel e DS), Volkswagen, Ford, Daimler-Mercedes Benz e BMW fecharam fábricas por ao menos duas semanas e estudam programas de lay-off (suspensão de trabalho temporária) ou demissão voluntária.
A crise do setor automobilístico pode atingir até 13,8 milhões de empregos diretos e indiretos no continente, segundo a Acea (associação europeia de fabricantes), ou 6,1% do mercado de trabalho europeu.
No setor aéreo, companhias como Air France, KLM e British Airlines também anunciaram lay-off de grande parte de suas equipes.
Governos dos principais países responderam com projetos de compensar parte dos salários dos trabalhadores em licença compulsória ou de elevar benefícios para os desempregados ou afastados por doença.
O Reino Unido anunciou um reforço de 1 bilhão de libras (cerca de R$ 6 bilhões) para os benefícios sociais, e a França destinou 8,5 bilhões de euros (cerca R$ 48 bilhões) para pagar parte do salário dos trabalhadores afastados e 2 bilhões de euros para ajudar a autônomos.
A Alemanha também anunciou que vai reativar seu programa de subsídio para afastamentos temporários, que bancaram a renda de 1,5 milhão de alemães durante a crise de 2008, a um custo de 8 bilhões de euros.
O governo alemão não especificou uma cifra, mas chamou seus planos de socorro de “bazuca” que seria recarregada quantas vezes for necessário.
Economistas, no entanto, alertam que países muito endividados, como a Itália, podem enfrentar problemas para oferecer a proteção social necessária aos trabalhadores afetados pela crise.