O maior estudo feito nos Estados Unidos até o momento sobre as mutações do novo coronavírus apontou a possibilidade de o mesmo ter se tornado mais contagioso e capaz de “driblar” barreiras e imunizações. O levantamento – que analisou mais de 5 mil sequências genéticas do vírus – foi divulgado na quarta-feira (23/9), por cientistas da cidade de Houston, no Texas.
Segundo os cientistas, todos os vírus acumulam mutações genéticas e a maioria é “insignificante”. Apesar de coronavírus como o SARS-CoV-2 serem relativamente estáveis, cada mutação é um “jogo de dados”, como explica o autor do estudo, James Musser, do Houston Methodist Hospital. “Demos muitas chances a esse vírus. Há uma população enorme, no momento”, afirmou ao jornal Washington Post.
Assim como um relatório publicado no início de setembro, no Reino Unido, essa nova pesquisa feita nos EUA concluiu que essa disseminação excessiva do novo coronavírus pode vir de uma alteração na estrutura da “proteína spike”.
O virologista do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID), David Morens, que revisou o novo estudo, disse que as descobertas apontam para a forte possibilidade de que o vírus, à medida que se espalha, tenha se tornado mais transmissível e que isso “pode causar implicações em nossa capacidade de controlá-lo”.
Ele pondera que este é um único levantamento e “você não quer interpretar demais o que isso significa”, mas que o vírus pode estar respondendo – por meio de mutações aleatórias – a intervenções como o uso de máscaras e o distanciamento social. “Usar máscaras, lavar as mãos, todas essas coisas são barreiras para a transmissibilidade ou contágio, mas, à medida que o vírus se torna mais contagioso, é estatisticamente melhor contornar essas barreiras”, disse Morens.
O virologista falou AINDA que isso tem implicações para a formulação de vacinas. “Embora ainda não saibamos, é bem possível que – quando nossa imunidade em nível populacional ficar alta o suficiente – esse coronavírus encontre uma maneira de contornar nossa imunidade”, explicou.
“Se isso acontecesse, estaríamos na mesma situação da gripe. Teremos que perseguir o vírus e, à medida que ele sofre mutação, teremos que mexer em nossa vacina”, completou o pesquisador. Cientistas da Weill Cornell Medicine, da University of Chicago, do Argonne National Laboratory e da Un iversity of Texas em Austin também contribuíram para o estudo.