Quando afirma que o funcionalismo “não pode ficar em casa trancado com a geladeira cheia assistindo a crise (do coronavírus) enquanto milhões de brasileiros estão perdendo o emprego”, o Ministro da Economia desconsidera questões cruciais, além de revelar um grande desrespeito aos servidores públicos. Ao minimizar a relevância da atuação dos recursos humanos do Estado, o senhor Paulo Guedes atinge não somente aqueles que estão na linha de frente de combate ao Covid-19, mas a todos os responsáveis pela execução das políticas públicas essenciais ao desenvolvimento do país.
Absolutamente desnecessário e equivocado o pedido do ministro aos funcionários públicos para que façam o seu sacrifício em favor da sociedade. Especialistas em se doar pela nação, muitos servidores, salvo raras exceções, sempre foram e continuam sendo os principais responsáveis pelo funcionamento da máquina pública que, diga-se de passagem, tem sido protagonista no cenário atual. Será que o ministro desconhece os sacrifícios diários de professores, policiais, agentes de segurança, profissionais da saúde, entre outras categorias do serviço público ao longo da história da nossa nação?
Entre os profissionais que estão na linha de frente da pandemia, se arriscando diariamente no combate à Covid-19, quantos são funcionários públicos? Quem de fato está “dando conta” da pandemia no Brasil? Não são os serviços públicos ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS) os grandes responsáveis pela prevenção e tratamento da maioria dos brasileiros afetada pelo coronavírus? Não são as universidades e instituições públicas de pesquisa que correm contra o tempo na busca por uma vacina ou tratamento para a doença? E o que dizer dos demais servidores que se arriscam diariamente, a exemplo dos policiais?
Muitos servidores que atuam na área administrativa não pararam para “assistir a crise” porque lhes falta tempo. Trabalhadores públicos do estado da Bahia de diversas secretarias e órgãos públicos, para citar um exemplo, estão trabalhando em esquema de mutirão para dar conta de demandas criadas pela pandemia. Esses funcionários públicos, como muitos outros, não estão “parados”, como sugeriu o ministro da economia.
Não, senhor Paulo Guedes, eles não estão aproveitando a “geladeira cheia”, primeiro porque nem tão cheia assim está a geladeira dos servidores públicos, com exceção daqueles que ocupam alguns poucos cargos, e segundo porque os sacrifícios diários continuam sendo feitos todos os dias, desde muito antes desta pandemia. Aliás, por falar em geladeira, imagino como deve estar a sua, ministro. Com certeza, transbordando!