O chulé de um traficante foi a peça chave para que policiais militares de Valença, no sul da Bahia, conseguissem prender, neste ano, ele e mais dois comparsas. No desespero da fuga, o homem, ‘cinderelo do crime’, deixou para trás uma sandália, elemento decisivo para que os oficiais identificassem a rota de fuga dos criminosos do bairro da Graça, região conhecida do município pelo tráfico de drogas.
Quem ajudou a seguir o rastro do fedor foi Kyra, uma cadela da raça pastor-belga malinois, pertencente à 33ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM).
Em todo o país, tradicionalmente os cães sempre foram usados para a identificação de entorpecentes. Agora, a PM da Bahia quer apostar nestes animais como ferramenta para a busca de foragidos.
Desde o ano passado, a corporação tem oferecido um curso chamado de ‘mantrailing’, uma técnica de busca de odor popular nos Estados Unidos. Só nesta última semana, 18 cães do estado e também de Sergipe foram capacitados pelo Grupamento de Busca e Resgate Brasil, através do Batalhão de Polícia de Choque da Bahia.
Os policiais desconfiavam que os suspeitos fugiam por uma determinada rota e aí, através das sandálias que eles deixavam para trás quando fugiam, nós aplicamos Kyra e ela descobriu uma rota diferente da que os policiais suspeitavam, ela achou uma trilha”, comenta o tenente-coronel Alexandre Costa de Souza, comandante da 33ª CIPM, que possui ainda outros três cães da raça bloodhound: Surah, Blood e a caçula Brunna, de apenas quatro meses.
Após o treinamento finalizado neste domingo, Brunna tornou-se a primeira cadela com a certificação mais rápida do país para realizar a busca de pessoas. Em Salvador, as atividades práticas do curso foram realizadas na Praia do Flamengo, Dique do Tororó, Pelourinho e em áreas da Força Aérea Brasileira.
Desafios urbanos
De acordo com a capitã Samanta Lacerda, da Companhia de Operações com Cães, a polícia já tinha um procedimento de busca de foragidos em áreas de mata, mas nessa técnica os cães buscavam qualquer pessoa que estivesse embrenhada na vegetação. O foco da polícia agora é capacitar os cães para encontrar pessoas no meio urbano, em locais onde há grande circulação de gente.
A atuação dos cachorros na cidade é bem mais complexa. Enquanto o meio rural costuma ser mais silencioso e com menor circulação humana, a urbanização impõe outros desafios aos bichos, como barulho de carros, maior diversidade de odores e presença de animais de rua, que podem tirar o foco nas buscas. Fatores como vento, vegetação e temperatura também interferem no olfato do animal.
“A gente quer buscar o máximo de situações em que se possa usar os cães como ferramenta. Na cidade, temos locais que tornam mais difícil a busca e a gente vai analisando o comportamento do cão e direcionando para que ele fique mais focado”, explica Lacerda.
Uma das possibilidades de aplicação dos cachorros na cidade é, sobretudo, no auxílio à elucidação de roubos de veículos. Se um criminoso rouba um carro e depois o abandona, os policiais podem colher material biológico do banco e volante do veículo e colocar os animais no encalço dos suspeitos.
“O treinamento auxilia a encontrar a pessoa específica, em qualquer ambiente, através do cheiro dela. Para o cão, isso funciona como uma impressão digital”, afirma a capitã.