No inicio desse ano, a CGU publicou o Relatório do Programa de Fiscalização em Entes Federativos 2016, com o objetivo de analisar a aplicação dos recursos federais sob a responsabilidade do Governo do Estado no período de 7 de março a 29 de abril de 2016. E dentre os itens analisados pelo órgão, um dos destaques vai para o Centro de Judô, localizado no município de Lauro de Freitas e que no qual se observou um aparente processo de subutilização, com manutenção e conservação deficientes para as metas propostas ao equipamento esportivo.
Construído em agosto de 2013 e finalizado em dezembro de 2014, como parte do programa Brasil no Esporte de Alto Rendimento, o Centro Pan-Americano de Judô é considerado um centro de excelência do esporte nas Américas. Com orçamento de R$ 43,2 milhões, sendo R$ 18,3 milhões do Estado da Bahia – incluindo desapropriação do terreno – e R$ 19,8 milhões da União, o espaço ainda teve o seu projeto executivo elaborado pela CBJ, que aportou R$ 5,1 milhões para compra de parte dos equipamentos e mobiliário. O relatório da CGU apontou que a obra foi totalmente concluída, com total regularização no Cartório de Registro de Imóveis e com itens instalados totalmente compatíveis com o Plano de Trabalho e o Projeto Básico do local. Entretanto, mesmo com plenas condições de utilização, o documento aponta que até a data de sua analise, existiam deficiências na manutenção do local, com a falta de um plano de manutenção e conservação, e uma subutilização do CPJ. Com base nestes dados, o Bahia Notícias conversou com membros da entidade esportiva sobre os problemas e demandas do Centro Pan-Americano.
Presidente da CBJ, Paulo Wanderley Teixeira em entrevista ao
Bahia Notícias. Foto: Lara Monsores
No documento, foram analisados em separado o Ginásio, o prédio administrativo e alojamento do CPJ, encontrando-se problemas distintos para os três espaços. No ginásio, foram constatadas a ausência de mobília em alguns espaços e precariedade em relação a banheiros e enfermaria. “Mesmo ao se observar que há um calendário de eventos previstos para ocorrer, fica evidenciado que o CPJ não está devidamente equipado, na forma em que foi idealizada no projeto desenvolvido pela própria Confederação Brasileira de Judô, a qual foi à destinatária e é a atual responsável pelo empreendimento”, disse a Controladoria no documento.Por conta de visitas efetuadas pelo Bahia Notícias durante a cobertura de eventos pré-Jogos Olímpicos, foi analisado que alguns desses espaços já apresentavam total funcionamento, como é o caso da área de apoio a imprensa. Em abril, o local não tinha objetos operacionais instalados e se resumia a uma sala vazia, segundo o documento. Porém, nos meses de maio e junho, a sala já apresentava estrutura e serviu como local de coletivas de imprensa e apresentações da entidade.
Entretanto, até antes do Rio-2016, algumas demandas seguiam com necessidade de resolução, que segundo a CBJ só foram resolvidas após a disputa olímpica. “Havia mesmo uma a não utilização plena. Isso foi por conta de uma necessidade de arrumação. Aqui é como uma casa. Você constrói, mas você só vai saber como vai ficar depois que você entra. Vimos o que não ficou como pedimos, o que faltava e complementamos essa demanda. A medida que nós fomos chegando e detectando essas demandas, fomos analisando. Hoje temos segurança completa, a manutenção de elevadores e de outros equipamentos do nosso dia-a-dia”, afirmou o presidente da CBJ, Paulo Wanderley Teixeira, em entrevista ao Bahia Notícias, na qual explicou sobre a demora para o total funcionamento do CPJ. “Na época, estamos em meio a um foco olímpico, onde o Judô tem a responsabilidade de ter sucesso. E com isso, com todo nosso corpo técnico, projetos e treinamento funcionando com um olho e meio lá e meio olho aqui, e isso veio gradativamente se transformando”, complementou.
Atividades realizadas pela Confederação de Judô no CPJ em 2016.
Fonte: CBJ
Apesar de um aparente funcionamento completo, chama atenção um outro tópico apontado pela CGU e que ainda não foi solucionado pela CBJ. Com um prédio administrativo que apresenta auditório para 206 pessoas e locais de recepção, salas de reunião, setor financeiro e administrativo, além de gráfica e salas de conselho e presidência, a Centro Pan-Americano tem a finalidade de se tornar a sede da Confederação Brasileira. O que ainda não aconteceu e não tem data definida. “Essa transferência vai acontecer, mas não posso te dizer a data exata. Está próximo. Mas já temos parte da CBJ funcionando aqui. Precariamente, mas já funcionando. Temos o projeto social nosso, o Avança Judô, já está toda aqui dentro. Um grupo de planejamento já está aqui dentro”, comentou Teixeira, que justificou esse atraso também a questão olímpica. “Estávamos focados lá (no Rio de Janeiro) e trouxemos a parte técnica, mas a administrativa nós demos essa segurada”, finalizou. Em números oficiais, a CBJ apresenta 33 funcionários.
Auditório do Centro Pan-Americano
Foto: Edimário Duplat/Bahia Notícias
O relatório constatou, durante sua inspeção física, que o Centro Pan-Americano sofre de um grave problema de corrosão de equipamentos e limpeza deficiente dos ambientes internos e externos. “As falhas de manutenção e de conservação são agravadas pelo fato de o local escolhido para a instalação do CPJ, à beira-mar na Praia de Ipitanga, no município de Lauro de Freitas, Estado da Bahia, estar sujeito a uma alta salinidade. (…)A ausência de um Plano de Manutenção e Conservação adequado pode dar causa a prejuízos em todas essas situações. Nas deficiências de materiais (se fora de especificação) ou de serviços, o planejamento de inspeções físicas serviria para detectar as ocorrências e acionar a construtora, se dentro do prazo de garantia da obra”, aponta o documento.
Para o mandatário da Confederação, existe realmente um problema relacionado ao posicionamento do equipamento, mas que está sendo resolvido com recentes projetos de manutenção no espaço. “Essa é uma área privilegiada com a natureza, temos uma parceria com o Projeto Tamar, mas é realmente um dificultador. Você tem demandas de manutenção grandes, e realmente é um fator complicante. O custo é muito alto”, disse Paulo Teixeira, que admitiu ter participado da escolha do local e os altos custos para manter o espaço em condições de uso. “A gente tem um zelo muito grande com isso aqui, sabemos da importância desse equipamento pro Judô, pro esporte e pro estado, além dos profissionais da área esportiva”, concluiu.
Além das atividades da Confederação Brasileira de Judô, o Centro Pan-Americano já sediou outros eventos esportivos. Em agosto de 2015, o local sediou o Mundial Júnior de Luta Olímpica, além de atividades da própria Federação Baiana de Judô (FBJ) por todo o ano. De acordo com o mandatário, o local está sempre aberto para receber atividades esportivas que se assemelhem ao esporte no qual foi concebido. Entretanto, a atividade principal continua sendo o Judô. “Foi uma parceria com a Confederação Brasileira de Lutas, que fazem parte de nosso público esportivo, e não houve um conflito de datas”, complementou.
Neste sábado, o Centro Pan-Americano sedia o Campeonato Brasileiro Sub-13 da modalidade. Já em Novembro, o espaço será palco do Grand Prix Nacional Interclubes Feminino e a Seletiva Nacional sub-18 e sub-21.