Na sua opinião, essa declaração sobre os presos mortos no Massacre de Manaus foi dada por:
a) Um perfil falso de rede social criado para apoiar políticos ou movimentos que querem se vender como novos salvadores da pátria, mas defendem a tradição, a família e a propriedade, tentando mostrar que o problema do mundo é a defesa dos direitos humanos;
b) Um haker da internet que, na opinião dos vizinhos, é um ”homem de bem”, ”pai carinhoso”, ”trabalhador exemplar”, ”pagador de impostos”, ”pessoa tranquila”, mas que, na frente do computador, torna-se capaz de matar com as próprias mãos com requintes de crueldade;
c) Um miliciano de um grupo que tomou uma área na periferia de uma grande cidade das mãos dos traficantes e obriga, com base em muita violência, o comércio e a população a pagarem por proteção (proteção contra ele próprio, no caso);
d) Um apresentador de TV ou um locutor de rádio que ganha dinheiro explorando a história de assassinatos e agressões, difundindo a narrativa de que a solução para a violência é mais violência e criando uma sociedade do medo sob a justificativa de ”mostrar a realidade”;
e) O secretário nacional de Juventude, responsável por elaborar, monitorar e implantar políticas de promoção da dignidade humana aos mais jovens, um cargo que, por natureza, deve trabalhar ideias novas e transpirar esperança.
A resposta é a alternativa ”e”.
A declaração foi dada por Bruno Júlio (PMDB), secretário nacional de Juventude. Aliás, ex-secretário, pois as declarações dadas ao blog Panorama Político, do jornal O Globo, nesta sexta (6), tornaram insustentável a sua permanência no cargo, que foi entregue a Michel Temer.
É inacreditável, mas não passa um dia sem que alguma autoridade dê uma opinião estapafúrdia sobre o caso. Como José Melo, governador do Amazonas justificando as mortes, dizendo que ”não tinha nenhum santo”. Ou Michel Temer, presidente da República afirmando que foi um ”acidente pavoroso”.
Isso não é engano. Na prática, todos sabem que, ao dizer essas aberrações, externam o que uma boa parcela da população realmente pensa sobre isso. Alguns, como Bruno, até parecem acreditar nisso.
O ponto é que quem ocupa um cargo público deve defender a lei e não fazer proselitismo com quem não dá a mínima para ela. O Estado não pode e não deve agir com os mesmos métodos de bandidos, mas também seus representantes não podem adotar discursos que não passem pela proteção da dignidade humana.
Abrir uma exceção a isso é decretar a falência do Estado de direito. E, repito, isso não é defesa de bandido, mas de nós mesmos. Porque, sem isso, será a regra do mais forte.
Parte da população, em momentos de comoção, feito uma horda desgovernada, pede sangue. Afinal de contas, ”aquele bando de bandidos não são seres humanos porque desrespeitaram a lei”. E mesmo ”os que não mataram ou estupraram, matariam se pudessem”, não é mesmo? ”Devem apodrecer por lá”.
Tenho medo desse ponto de vista porque é o mesmo de turbas ensandecidas, que ignoram a lei e fazem Justiça por conta própria, não raro matando inocentes. E de uma população com tanto medo de si mesma que acaba por ignorar as leis e se guiar por discursos que prometem o impossível: garantir a paz promovendo a guerra. No final das contas, essa guerra com ares de inquisição se estende a todos sem exceção. Ou você está do lado deles ou contra eles.
O que me lembra sempre de Oscar Wilde: ”Há três tipos de déspotas. Aquele que tiraniza o corpo, aquele que tiraniza a alma e o que tiraniza, ao mesmo tempo, o corpo e a alma. O primeiro é chamado de príncipe. O segundo de papa. O terceiro de povo”.
Em tempo, se você chutou ”a”, ”b”, ”c” ou ”d” no teste, não duvido que também tenha acertado. O que é desesperador.