O médico cancerologista Drauzio Varella afirma que a principal peculiaridade brasileira diante da pandemia do novo coronavírus é a imensa desigualdade social, que impõe condições de vidas muito distintas para ricos e pobres. Em sua avaliação, o pior dos cenários ocorrerá porque grande parte da população não têm acesso às práticas que previnem o contágio, como lavar as mãos, comprar álcool gel e praticar o isolamento social.
Em entrevista ao site BBC Brasil, Varella afirmou que vencer o avanço da doença no país exigirá estratégias e obstáculos diferentes do que foi observado em nações da Europa e da Ásia.
E, diante da naturalização histórica das mazelas sociais, diz prever uma “tragédia nacional”.
“Eu acho que nós vamos ter um número muito grande de mortes, vamos ter um impacto na economia enorme, uma duração prolongada. Agora é que nós vamos pagar o preço por essa desigualdade social com a qual nós convivemos por décadas e décadas, aceitando como uma coisa praticamente natural. Agora vem a conta a pagar. Porque é a primeira vez que nós vamos ter a epidemia se disseminando em larga escala em um país de dimensões continentais e com tanta desigualdade”, declarou.
Ferrenho defensor do isolamento social, uma das únicas medidas comprovadamente eficazes contra o vírus (além da higiene frequente das mãos, por exemplo), ele alerta para as possíveis consequências terríveis para os pacientes graves que, por falta de infraestrutura, eventualmente ficarem sem atendimento em meio a problemas respiratórios progressivos. “Não é que você volta para casa, sofre um pouco e passa. Não, falta de ar é o pior sintoma que existe. Porque se você tem dor, toma analgésico, você tem tosse, tem jeito de bloquear. Agora ter falta de ar é uma morte horrível. Horrível.”
Prestes a completar 77 anos em maio, Varella afirmou à publicação que se arrepende de já ter sido otimista a respeito do novo coronavírus. Na época em que começaram a surgir as primeiras informações sobre o vírus na China, em dezembro do ano passado, ele diz que, como muitos, considerou que se tratava de uma doença de baixa letalidade, como pareciam indicar os dados disponíveis. “Eu participei desse otimismo e me recrimino por isso hoje.”