Olá, sou Alberto da Cunha Velloso Neto, filho do lendário Nildon Carlos Braga Velloso, o popular “Birro Doido”, zagueiro do Bahia que evitou o Milésimo gol de Pelé.
Dia 16 agora, completará 50 anos deste jogo histórico entre Santos e Bahia. O Circo estava armado na Fonte Nova, Pelé estava com 999 gols marcados, faltando apenas 1, para o milésimo. Diante do contexto, o rei estava pressionado a fazer o gol mil de sua carreira antes mesmo de chegar ao maior estádio do mundo, o Maracanã. Vários motivos levaram o amistoso Bahia x Santos a ser o tema mais comentado pela imprensa de todo o mundo. Três boeings com jornalistas de 23 países acompanhavam o camisa 10 do Santos, pela Turnê no Nordeste. Pelé fizera um gol, chegando a marca dos 999, em João Pessoa. O gol mais esperado já era o próximo, mas o rei, de forma inusitada substituiu o goleiro santista por contusão suspeitável.
Já se percebeu que o Botafogo da Paraíba estava facilitando que o gol mil fosse realizado lá.
Com toda a pressão, o rei não poderia banalizar o momento mais importante da sua carreira em prol de interesses externos. A imprensa do sul já dava como certo a festa na Bahia. Wilson Simonal com um trio do lado de fora as margens do Dique do Tororó, no aguardo da façanha, para iniciar a festa. Arnaldo Cézar Coelho fora escalado para o espetáculo, certo de que apitaria o feito.
A imprensa, às margens do gramado, pronta para ganhar um prêmio proposto por uma TV japonesa, que daria ¥1.000 (mil ienes) para o primeiro jornalista que entrevistasse Pelé, após o gol mil. O ex-ídolo do Bahia, Leo Oliveira, que era titular do Peixe na época, estava desamparado. Por lesão, acompanhou o jogo a distância, tendo a plena certeza de que estaria fora de relevante momento.
As arquibancadas lotadas, com gente de todo canto, em sua maioria de outros clubes misturados à clássica torcida tricolor. Com um time imbatível, composto por ídolos como Eliseu Godói, Roberto Rebouças, Baiaco, o goleiro Jurandir, entre outros, jamais iria se furtar a combater, em favor da louvável camisa do esquadrão de aço. Pelé driblou quase toda a zaga, deixou Jurandir esticado na grama e visualizou o gol aberto. Ali, naquele momento, surge, como fenômeno, o encontro indubitável entre sua trajetória de vida (de engraxate à rei) e o momento único da história, o gol de número mil. Diante da cena, chutou rasteiro e correu para a consagração total e absoluta do esporte denominado “futebol”. Ninguém se mexia, todos paralisados esperando a bola balançar a rede. De repente, mais do que “de repentemente”, a perna esquerda de Birro Doido (nome dado por Djalma Costa Lino), como um ato, O ATO MAIS ÉTICO DO FUTEBOL, tira a bola em cima da linha. Perplexidade total!! Parte da torcida enfurecida começa a vaiar o beck, inesperadamente. Outra parte aplaudindo a honestidade e a competência, de todo zagueiro que se preza. Disse Nildon Birro Doido: “MAIS VALE A VITÓRIA DO MEU TIME, QUE A FAMA DO MEU GRUPO”.
Wilson Simonal foi cantar o “Patropí” e fazer a grande festa em outro terreiro. Arnaldo Cézar Coelho, que chegou a citar Nildon como um desavisado, se aposentou, sem ter a honra de ter apitado o milésimo. A imprensa nem lembrou dos ienes, tendo que mudar todo o briefing de suas manchetes. Leo Oliveira agradeceu ao zagueiro, através de familiares, por ter participado do jogo do milésimo, Baiaco teve a audácia de tê-lo chamado de burro e, por fim, as arquibancadas da Fonte Nova continuaram, sempre lotadas, pela clássica e eterna torcida tricolor.
Na manhã, do dia 17 de Novembro, estampavam, nos jornais a manchete: “AQUI NÃO MEU REI!”!
Valeu Bahia, Valeu Nildon!!
Tobé Velloso
Filósofo, escritor.
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