Segundo pesquisa Ipsus, divulgada na Folha de hoje, 96% da população apoia a Lava Jato “custe o que custar”. É uma coisa de louco: apoio à Lava Jato mesmo que traga instabilidade política, instabilidade econômica, desemprego.
O Ipsos vem fazendo pesquisas sobre Lava Jato e PT desde o início de 2016. Foram pesquisas importantes para subsidiar o golpe, que ainda não terminou: é preciso estabelecer um regime autoritário. O momento para divulgar essa pesquisa não poderia ser mais oportuno: na véspera da marcha pró-lava jato marcada para domingo. A consultoria política e publicitária da força-tarefa segue firme e operante.
A demanda dos fascistas que saíram às ruas no início do ano e que pretendem voltar a ela neste domingo se concretizou: fora Dilma, fora STF, queremos só Ministério Público e Polícia Federal.
A pesquisa Ipsos é bem típica dessas ditaduras de terceiro mundo, onde o presidente costuma ser “eleito” por 96% da população.
É claramente uma fraude, em todos os sentidos.
É interessante, contudo, avaliar os resultados dessa pesquisa fraudulenta, porque ela evidencia, mesmo com seus exageros, quais os objetivos da Lava Jato. A maioria absoluta dos entrevistados apontou o PT como o partido mais corrupto de todos, apesar de que todas as estatísticas existentes ainda mostram o PT como um dos menos corruptos: em primeiro lugar ainda figuram DEM, PMDB e PSDB.
Mas o que importam estatísticas ou eleições se existem pesquisas de opinião?
Além disso, se o powerpoint da Lava Jato apontou Lula como “comandante máximo”, se a manchete no Estadão foi de que “Dilma sabia de tudo”, e se Gilmar Mendes não pára de repetir que o PT é uma “organização criminosa”, então não surpreende que os entrevistados vejam na Lava Jato uma operação para combater a corrupção principalmente do PT.
A Lava Jato é um projeto de poder, sem participação do eleitor. Desde o início, o golpismo percebeu que seria muito mais fácil substituir o voto pelas “pesquisas”.
Um processo eleitoral tem regras de equilíbrio, sobretudo na fase dos debates que antecedem o pleito, que dificultam o desejo do sistema midiático golpista de sufocar completamente os argumentos de um lado só. Enfatize-se o “dificultam”. Não impedem, contudo.
A contrarreforma política de Eduardo Cunha reduziu o tempo de campanha, porque o objetivo era diminuir o máximo possível o constrangimento de oferecer a todos os partidos a oportunidade de exporem suas ideias.
A multa de 6,8 bilhões de reais imposta pela Lava Jato à Odebrecht, é importante não esquecer, será paga em boa parte aos Estados Unidos. Acho curioso que a força-tarefa não tenha divulgado o percentual exato da multa a ser pago para o Tio Sam. O que se sabe é que o acordo da Odebrecht com a Lava Jato teve participação ativa do Departamento de Justiça do governo americano.
É curioso ainda que os brasileiros festejem um acordo pelo qual uma empresa brasileira, em plena crise econômica, pagará bilhões de reais ao país mais rico do mundo. E isso depois de um processo de desestabilização que fez a Odebrecht demitir centenas de milhares de pessoas e acumular uma dívida de mais de R$ 100 bilhões.
Para quem deve mais de R$ 110 bilhões, um acordo de R$ 6,8 bilhões para pagar em 23 anos não parece muito, mas é sim, porque dificulta mais ainda a tomada de financiamentos. Paralelo a isso, o BNDES, numa posição agressiva e estúpida, cancelou financiamentos a projetos de engenharia no exterior, que estavam em andamento, colocando as empresas brasileiras, e todos os seus empregos envolvidos, em má situação – e isso num dos momentos mais dramáticos da economia nacional.
Uma semana antes do anúncio do acordo, o blog do Fausto Macedo, Estadão, que desde o início da Lava Jato se tornou uma espécie de canal oficial da força-tarefa, anunciou que havia um último “impasse” atrasando a sua finalização: os EUA queriam mais dinheiro da Odebrecht.
A justiça brasileira, covarde, cedeu aos EUA. Segundo o blog do Fausto, o próprio procurador-geral Rodrigo Janot entrou na história. Não se sabe ainda se a multa foi aumentada ou se o Brasil cedeu parte de seu espólio da Odebrecht.
A participação do governo americano na Lava Jato no acordo com a Odebrecht não podia ser mais clara. A empreiteira nacional ganhou licitações nos EUA para fazer um novo terminal para o aeroporto de Miami e modernizar o porto de Miami. Esse avanço de uma empresa brasileira no bilionário setor de construção civil norte-americano certamente não agradou alguns lobistas poderosos da família do Tio Sam.
Hoje a Folha diz que, segundo a delação da Odebrecht, a “propina” paga ao PT foi para El Salvador, para pagar uma campanha eleitoral em… El Salvador.
Para a Lava Jato e suas delações cuidadosamente forjadas, o PT queria dominar o mundo, começando por El Salvador… Tudo autorizado por Lula, claro, esse corrupto tão generoso que permite que suas propinas sejam usadas para bancar campanhas em outros países enquanto se satisfaz com um kitnet triplo em Guarujá.
É mais uma mentira para gerar manchetes, consolidar o golpe, e desviar atenção pública dos descalabros do governo Temer.
A Odebrecht bancou a campanha de um candidato em El Salvador pela mesma razão que empresas patrocinam campanhas no mundo inteiro: porque esperava fazer negócios com o governo. Provavelmente, outra empresa bancava a campanha do adversário. O que o PT tem a ver com isso?
Afinal, por que a população vai se indignar com o governo Temer se a Odebrecht pagou propina para o PT em El Salvador?
É como escrevia Rimbaud, “enquanto recursos públicos se evaporam em festas de fraternidade, um sino de fogo rosa soa nas nuvens”.