Por Marcelo Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia
Sexta-feira, 13, foi uma data emblemática para Bahia: em São Paulo um consórcio chinês venceu a licitação para construir a ponte que vai ligar Salvador ao recôncavo baiano através da Ilha de Itaparica. O governador Rui Costa e o vice João Leão comemoraram o feito. Rui deu os créditos do projeto ao João. É a maior obra do gênero já realizada em terras baianas, sem dúvida vai acelerar nossa economia com muitos empregos diretos e indiretos.
A ponte representa uma contrapartida face ao ocorrido com abertura da Linha Verde que conectou a cidade de Salvador em direção ao Norte, valorizando em muito essa região, mesmo que pese na época a grita contra o grande impacto ambiental que geraria a obra. Hoje o povo viaja feliz pela estrada, a caminho de Sergipe, já esquecido da agonia que foi na época.
Confesso que essa discussão no início me deixou meio atormentado, pois uma das características da região do recôncavo sempre foi a navegação de cabotagem, porém, infelizmente “o vapor de cachoeira não navega mais no mar” e as canoas e veleiros que singravam pela baía de todos os santos, tão belamente fotografados por Pierre Verger, hélas, praticamente desapareceram. Considere-se ainda que justamente por conta do isolamento geográfico causado pelas dificuldades de acesso, algumas cidades do recôncavo se tornam polos de desenvolvimento econômico, cultural e político da região, por exemplo Cachoeira, Santo Amaro, Santo Antônio de Jesus, Muritiba, Maragogipe, Itaparica e Mar Grande. Tais cidades se comunicavam com a metrópole Salvador através da navegação ou pelas BRs, mas a produção econômica, até hoje, tem circulação apenas local, dada a dificuldade de ir e vir. Importante evoluir sem perder características locais que fortalecem economia e a cultura.
Com a mega ponte o acesso de Salvador a Itaparica, de automóvel e motocicleta será feito em 30 minutos, e se houver viável tecnicamente a disponibilização de faixa especial de ciclovia, ótimo, pois o povo da ilha usa muito bicicleta. Uma questão seria o risco de se esvaziar o comércio local, porem a equipe do governo é inteligente o suficiente para equacionar tal impasse.
Talvez a comunicação mais célebre entre a cidade da Bahia e Itaparica aumente a segurança dos habitantes do recôncavo, atualmente um território de ninguém onde a bandidagem faz a farra. A polícia terá maior mobilidade para capturar delinquentes tanto em fuga para a Ilha e vice-versa. Há sempre o risco do aumento do êxodo para a metrópole de pessoas sem habilidade profissional, questão a ser prevista pelo planificadores governamentais.
Que a construção da nova ponte leve a uma discussão profunda e propostas exequíveis sobre a revitalização e racionalização do transporte fluvial em todo o recôncavo. Os dois meios de comunicação não são incompatíveis, vide o que ocorre na Cidade Maravilhosa onde as alternativas balsas do Rio/Niterói continuam navegando a todo vapor.