O ministro da Economia, Paulo Guedes, teve um lucro de R$ 1,24 milhão nos últimos quatro dias com a desvalorização do real em relação ao dólar nesse período. Desde a segunda-feira (18), o patrimônio de US$ 9,55 milhões investido pelo ministro na offshore que mantém no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas subiu em média R$ 300 mil por dia devido a movimentos da própria área econômica do governo, liderada por ele.
No começo da semana, quando Paulo Guedes se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro para tratar do Auxílio Brasil — o novo Bolsa Família —, o dólar estava cotado em R$ 5,51, segundo a conversão do Banco Central. Naquele dia 18, o patrimônio do ministro na offshore equivalia a R$ 52,620 milhões. Nesta quinta (21), com o dólar encerrando o dia a R$ 5,64, o valor em reais investido na offshore saltou para R$ 53,862 milhões — um aumento de R$ 1,242 milhão desde o começo da semana.
Nesta quarta-feira (20), Guedes chegou a afirmar que estudava uma licença para furar o teto de gastos do governo federal, o que foi mal recebido pelo mercado financeiro, provocando a alta do dólar e quedas sucessivas da Bolsa de Valores. A declaração aconteceu durante evento promovido pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).
A emenda constitucional que criou o teto de gastos, aprovada em 2016, é considerada a âncora fiscal das contas públicas do país. Alterações no limite de gastos dão sinais de um cenário de risco ao mercado. O indicador econômico chamado risco-Brasil, por exemplo, subiu nesta quinta-feira ao maior nível em mais de seis meses, influenciado pela turbulência nos mercados brasileiros diante do temor de descontrole das contas públicas.
Offshore
O R7 já havia mostrado que Paulo Guedes lucrou R$ 14 mil a cada dia como ministro com a offshore. A desvalorização do real durante o comando de Guedes no Ministério da Economia fez com que o investimento feito pelo ministro em agosto de 2015, equivalente a R$ 35 milhões, subisse mais de R$ 18 milhões até o último dia 3, quando foi revelada a existência da conta dele no paraíso fiscal.
Segundo especialistas, não é ilegal ter offshores, mas elas devem ser declaradas à Receita e, no caso de servidores públicos, há uma série de regras para evitar conflito de interesses. Guedes segue afirmando que as operações são legais e que ele se desvinculou de toda atuação no mercado privado, dentro dos termos exigidos pela Comissão de Ética Pública.
Debandada
Nesta quinta-feira (21), quatro dos principais auxiliares de Guedes deixaram a pasta. O secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, e o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, pediram exoneração. A secretária especial adjunta do Tesouro e Orçamento, Gildenora Dantas, e o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Rafael Araujo, também saíram do ministério. Eles discordam do drible que o governo pretende fazer no teto de gastos para bancar o Auxílio Brasil.
A situação agravou a crise política no governo. A possibilidade de demissão de Guedes se fortaleceu desde a revelação da offshore. Pesquisa divulgada em 8 de outubro mostra que 64% da população brasileira acreditava que Bolsonaro deveria demitir Guedes. Para uma parcela ainda maior dos entrevistados (68%), o ministro não tinha condições de permanecer no cargo. O levantamento, encomendado pela RecordTV, foi feito pelo Instituto Realtime BigData.