Bolsonaro está com medo. Ele, os generais do governo, os filhos, os parlamentares bolsonaristas, os youtubers contratados e a bandidagem em geral que orbita o Planalto.
Ontem, Allan dos Santos quase chorou (fez beiço, que nem criança).
Já a Carla Zambelli chorou de fato, com lágrimas e tudo.
Os filhos da besta estão acoelhadinhos. Devem estar se borrando, torcendo para algum general pistoleiro dar o tão sonhado golpe (porque eles mesmos são crianças assustadas – perigosas, mas assustadas).
Os generais, por suas vez, estão soterrados pela reputação de pior governo do mundo. Vexame histórico para as Forças Armadas. Levará décadas para limparem o nome sujo.
O dilema deles é esse: dar o golpe e sujar ainda mais aquilo que já está imundo? Mais 20 anos de dor de cabeça? De tortura? De ocultação de cadáver? Com internet? Mais 20 anos tendo que trocar favores com imprensa, empresários e herdeiros profissionais do jet set paulista?
Deve dar preguiça.
Até porque, se eles embarcarem nessa aventura, a luta armada volta com tudo. Onde há regime militar, há resistência armada, não tem como evitar, é do ser humano.
Enfim, esse dilema está estampado no discurso pretensamente ameaçador da caserna bolsonarista. Heleno diz que as “consequências serão imprevisíveis” e Ramos diz que “é bom não esticar a corda”.
Quem produz esse tipo de enunciado, nesse tom?
Não é quem tem, de fato, o poder para passar o trator por cima da democracia: é quem está acuado.
Se eles tivessem segurança para dar um golpe, o tom do discurso seria outro, seria de “quem pode”, não de “quem teme”.
Golpe se articula, não se ameaça com frases de efeito dirigidas à imprensa. Essa tática é para acirrar as redes sociais, para ganhar eleição no grito, para manipular apoio eleitoral.
Parte do oficialato brasileiro têm um talento imenso para se deixar usar por civis espertalhões, vide a ditadura: fizeram o serviço sujo, de graça, para a elite empresarial brasileira – e levaram a “culpa”, sozinhos.
Esses serviçais de Bolsonaro, Ramos e Heleno, são velhotes de recados.
Se algum general der o golpe, não serão esses dois farrapos morais.
No outro plano da catástrofe política, resta a pergunta: e Bolsonaro, ele mesmo – essa carcaça humana cada vez mais parecida com Hitler, com o cabelinho suado colado no meio da testa?
O ex-tenente expulso por incapacidade só consegue expor seu pânico e sua tristeza, sobretudo por não ter mais um gabinete do ódio como antigamente.
Bolsonaro não bate mais pau na mesa porque ele não tem mais pau. O pau dele murchou, encolheu, virou uma verruguinha como a de Donald Trump e a de Eduardo, o filho.
Quando pretensos machões perdem a potência do discurso, pode esquecer: é brochada seguida de suicídio (senão real, simbólico).
Há mais de três semanas, Bolsonaro não grita, não xinga, não cospe. Ele adotou o discurso – risível, em se tratando de quem é – da defesa da democracia.
Bolsonaro se borra de medo do STF. A família tem medo do STF. Por que Eduardo, o filho, gravou aquele vídeo aludindo a um cabo e a um soldado, fetiches sexuais à parte?
Porque o STF é o terror da família. O STF é o Ustra dos Bolsonaro – com o imenso perdão da alusão, mas creiam: eu sei o que estou fazendo. Gente democrata e honesta tem medo de torturador. Gente corrupta e genocida tem medo da lei.
A lei voltou no Brasil. Tinha ido embora com Moro e com a Lava Jato, mas, de repente, ela voltou, meio assim, sem querer.
Bolsonaro é um cadáver insepulto. Ninguém sabe muito bem onde enterrar um verme desse tamanho. Sobretudo a elite que o colocou ali.
Esta tenta se safar com os manifestos “pela democracia”, um dos capítulos mais ridículos da história recente brasileira.
Mas o problema mesmo é que ela ainda não sabe o que fazer com Bolsonaro nem com o day after de Bolsonaro.
Essa insegurança desta elite tão conhecida de todos nós é que ainda adia a defenestração do maior genocida que o Brasil já produziu, incluindo Duque de Caxias.
As 45 mil mortes oficiais no Brasil até o momento em que escrevo esta missiva, são de responsabilidade única e exclusiva deste governo. Bolsonaro, Mourão, Heleno, Ramos, Pazuello, Mandetta, Teich, todos eles deverão um dia estar sentadinhos em um acolchoado banco dos réus – que poupe suas hemorroidas – em um tribunal penal internacional, para seguirem de cabeça baixa e escondendo o rosto a seus respectivos cativeiros de segurança máxima.
A elite autoproclamada – agora – democrata brasileira tem medo disso. Porque a derrocada profunda desse estratagema chamado golpe de 2016, cuja continuidade lógica é o governo Bolsonaro, devolve ao PT a responsabilidade de reconstruir o país dos escombros deixados por eles.
Não há condições sequer de se começar a repensar o país depois dessa tsunami golpista e genocida, sem a presença do PT como eixo central irradiador de projetos. Por tantas razões – inclusive morais – que escapam ao escopo desta missiva.
Em resumo: basta olhar a história recente, o que nos foi tirado e como, que essa resposta aparece como um monumento não racista em praça pública.
O Brasil vai voltar. Mas a nossa responsabilidade também, como nunca antes na história.