Jumária (à esquerda) e Fernanda eram amigas (Foto: Reprodução)
Digna de enredo de novela mexicana, a vida do casal Rakmus Varjão Pereira Alves, 35 anos, e Taís Santos Ferreira, 29, tem mais um capítulo narrado em um boletim de ocorrência policial. Isso porque, segundo a polícia, Taís, que, junto com a amante, contratou um homem para matar o marido na manhã desta segunda-feira (26), na cidade de Dias D’Ávila, já foi cúmplice do esposo e da cunhada, Fernanda Dos Santos Alves, 38, em um homicídio ocorrido em abril de 2017, em Lauro de Freitas.
No episódio desta segunda, Rakmus foi baleado na cabeça, mas não corre risco de morrer. Ele está internado em situação estável no Hospital Geral do Estado (HGE), em Salvador.
Quando foi presa, Fernanda confessou que, com a ajuda do irmão Rakmus, de Taís e de outras três pessoas, orquestrou o assassinato da amiga, a dona de casa Jumária dos Santos Barbosa, 41, executada com vários tiros dentro de uma academia no centro de Lauro de Freitas. Na época, todos foram indiciados pela Polícia Civil, mas tiveram suas prisões revogadas pelo Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) meses depois (ver abaixo).
O novo capítulo desta história começou a se desenhar na segunda, bem cedo, por volta de 5h. Rakmus praticava uma corrida matinal, em via pública, no bairro de Santa Terezinha, quando foi atacado por um homem armado, identificado como Matheus do Vale de Souza. Segundo a Polícia Civil, Taís e sua amante, Larissa Ferreira da Silva, contratou Matheus para matar Rakmus.
Socorrido por mandante
De acordo com o titular da 25ª Delegacia (Dias D’Ávila), Vitor Eça Andrade, o atirador e a vítima chegaram a entrar em luta corporal. Rakmus foi baleado na cabeça e Matheus conseguiu fugir.
“Fizemos o cerco para pegar o Matheus, o policial chegou a apontar a arma pra ele, deram voz de prisão, mas ele conseguiu correr. Não conseguimos pegar. Chegamos à identidade de Matheus porque fomos até a casa dele e conversamos com familiares”, explicou o delegado.
Ferida, a vítima foi levada pela própria mulher para o HGE, onde permanece internado em um “ótimo estado”, de acordo com o delegado Vitor Eça Andrade.
Na unidade de saúde, Taís informou que o marido havia sido vítima de uma tentativa de assalto, sem dar maiores informações sobre como teria ocorrido o crime ou mesmo se ela havia presenciado. No registro do caso, feito com base no depoimento dela, constava apenas o bairro Santa Terezinha como referência.
“Uma pequena investigação nos levou até Larissa. Na verdade, eu não sei bem se digo amante, porque é uma espécie de triângulo amoroso entre eles [Taís, Rakmus e Larissa]. Descobrimos que Taís estava no HGE acompanhando ele e mandamos uma equipe. Ela foi trazida até a delegacia, mas negou participação”, comentou o delegado.
Já Larissa, segundo ele, “confessou autoria sozinha”. “Mas não acreditamos que a esposa dele (Taís) não tenha envolvimento. Elas são as responsáveis pelo crime, mas não conseguimos deixar Taís presa por falta de provas”, completou Eça Andrade.
Ao confessar o crime, Larissa contou ao delegado que ela e Taís apanhavam do homem diariamente e que, ao cansarem das agressões, decidiram que precisavam se livrar dele. Ela, então, teria bolado o plano, conforme conta, sem ajuda de Taís.
“Além disso, também falaram que ele é envolvido com muitos crimes e que elas cansaram de viver essa vida. A versão dos espancamentos foi dada pelas duas mulheres, mas Taís negou veementemente participação”, acrescentou.
Ainda conforme o delegado, a amante do casal está detida na delegacia de Dias D’Ávila, mas deve ser transferida para Salvador na manhã desta quinta-feira (29). Embora tenha negado ser uma das mandantes na tentativa de homicídio sofrida pelo marido, Taís disse, em depoimento, que Rakmus teve participação direta na execução da dona de casa Jumária dos Santos Barbosa.
“Ela também negou participação neste crime contra a mulher em Lauro de Freitas, mas forneceu detalhes importantes e novos, provas que eu diria contundentes, sobre a execução desta vítima, em 2017. O delegado responsável pelo caso acompanhou o depoimento dela aqui na delegacia e solicitou, novamente, as prisões de Rakmus e demais envolvidos”, relatou Eça Andrade, acrescentando que Rakmus, embora tenha entrado no HGE em condição de vítima, já teve o pedido de prisão aceito e está custodiado no HGE.
Em nota enviada ao CORREIO, no entanto, o TJ-BA informou que não há informações de pedido atual de prisão em nome de Rakmus Varjão Pereira Alves.
Execução na academia
Conforme as investigações da Polícia Civil, as participações de Taís e do marido, Rakmus, foram confirmadas por Fernanda Alves, meia-irmã de Rakmus e mentora da execução na academia.
“Em outubro [de 2016], ela e Jumária se encontraram no aniversário de uma amiga que tinham em comum. Foi lá que elas se conheceram. Fernanda soube que Jumária jogava tarô e fazia trabalhos espirituais e pediu que ela fizesse um para reaproximá-la do ex-marido, um empresário que mora em São Paulo”, contou o delegado Joelson Reis, titular da 23ª Delegacia (Lauro de Freitas), acrescentando que a acusada tem dois filhos, de 8 e 14 anos.
Ao ser presa pelo crime cerca de três meses depois, Fernanda disse à polícia que foi ver o marido no começo de 2017, e esse encontro foi conturbado. Segundo ela, o ex-esposo, pai de seus filhos, estava frio e os dois tiveram desentendimentos.
Quando ela retornou para Salvador ficou sabendo, através de outra amiga, que Jumária teria feito um trabalho espiritual contrário, ou seja, para separá-la do marido. Fernanda, então, começou a planejar o assassinato da amiga.
Junto com um de seus empregados, Gilmário Carneiro dos Santos, o Guerreiro, Fernanda foi até a casa de Rakmus e Taís. Os quatro, então, acertaram detalhes do assassinato. “Eles fizeram essa reunião em um bar, em Dias D’Ávila, e ficou acertado que Rakmus convidaria um amigo, Diego Silva dos Santos, para ajudar no crime”, comentou o delegado Reis.
“Segundo Fernanda, foi Diego quem contratou um homem para matar a vítima (Jumária). Ele é envolvido com o tráfico de drogas e chamou um dos soldados dele, identificado como Branco, para fazer o serviço”, afirmou Reis, na época do crime.
Ainda segundo o delegado, Fernanda recebia uma pensão do ex-marido de cerca de R$ 20 mil, mas contou à polícia que o valor dos repasses começou a diminuir com o passar do tempo, o que também foi justificado pela mentora como motivo para a execução do crime, já que Fernanda acreditava que isso também era reflexo dos trabalhos espirituais feitos por Jumária.
No dia do crime, segundo a Polícia Civil, Guerreiro ficou com os filhos da mandante do homicídio, enquanto ela e os outros quatro suspeitos foram até um bar, próximo da casa da vítima, e aguardaram Jumária sair. Eles seguiram a vítima em dois carros, passaram pela frente da academia onde a mulher entrou e pararam alguns metros depois.
Fernanda ficou com Taís e Diego no carro Renault Symbol, prata, de Rakmus. Já ele, voltou com Branco no Renault Duster da irmã para a academia. O meio-irmão da suspeita aguardou dentro do veículo enquanto o assassino executava o serviço.
Branco entrou na academia como se fosse aluno novo. Um instrutor apresentou algumas áreas do estabelecimento para ele, até que o suspeito se afastou, como se fosse para o banheiro. “Nesse momento, ele ligou para Fernanda para confirmar se a vítima tinha uma borboleta tatuada no braço. Quando ela confirmou, ele se aproximou e fez os disparos”, contou o delegado.
Na época do crime, polícia divulgou fotos dos suspeitos pela morte de Jumária (Foto: Divulgação)
Prisões revogadas
A mandante do crime foi presa na cidade de Natal (RN) em julho e apresentada à imprensa em agosto, segundo a polícia, para não atrapalhar as investigações. Na época, a polícia divulgou fotos dos outros cinco suspeitos para que, quem soubesse de pistas, entrasse em contato por meio do Disque-Denúncia.
O delegado Joelson Reis, responsável por investigar o homicídio de Jumária, disse que as prisões de todos os suspeitos, incluindo Fernanda, foram revogadas, e que apenas o MP-BA, por meio de denúncia, poderia reverter a situação. “O promotor entendeu que não havia motivos para mantê-los presos, então, não há mais o que possamos fazer neste sentido”, afirmou Reis, sem comentar o depoimento de Taís citado pelo delegado Eça Andrade.
O delegado não comentou que teria solicitado novamente as prisões dos envolvidos no homicídio e disse que, neste caso, não teria como contribuir. “Ao que me parece, ele [Rakmus] é uma vítima desta vez. Como falei, quanto ao caso de Jumária, ele foi livrado pela Justiça”, concluiu.
Fernanda dos Santos Alves, 37, foi presa acusada de mandar matar amiga, mas teve prisão revogada (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Procurado pelo CORREIO para comentar as revogações, o TJ-BA informou que Fernanda foi solta porque o inquérito policial da Polícia Civil não foi concluído no período de 10 dias e que a ré já estava presa há mais de 30. Segundo o TJ, a lei penal prevê que a prisão é ilegal e a decisão da Juíza Jeine Vierira Guimarães foi no sentido de relaxar a prisão.
A pasta também informou que não há data para o júri. Sobre o processo contra Rakmus, a Corte informou que já existe uma ação penal em curso na qual será marcado o júri para o julgamento final.
O TJ-BA acrescentou, ainda, que a prisão preventiva de Rakmus estava revogada e que o acusado deveria se apresentar às autoridades judiciais sempre que intimado para prestar esclarecimentos. O TJ não forneceu informações acerca das revogações das prisões de Branco, Guerreiro e Diego.
Fonte: Correio da Bahia