O jornal O Globo, dos irmãos Marinho, enviou neste sábado uma proposta de paz ao Partido dos Trabalhadores, alvo de uma perseguição midiática e judicial liderada pelo grupo nos últimos anos, que promoveu um golpe de estado em 2016, contra a ex-presidente Dilma Rousseff, e uma eleição presidencial manipulada em 2018, uma vez que os direitos políticos do ex-presidente Lula foram artificialmente subtraídos por um processo de lawfare.
A bandeira branca partiu do jornalista Ascânio Sêleme, que já dirigiu o jornal e hoje é um de seus principais articulistas, na coluna “É hora de perdoar o PT”, em que ele argumenta que o partido já foi punido com o impeachment de Dilma e a prisão de seus principais líderes. No artigo, Ascânio argumenta que é preciso reconhecer que 30% dos eleitores brasileiros são de esquerda e que o PT é a principal força político-partidária deste campo.
O aceno de paz, no entanto, não envolve ainda nenhum tipo de autocrítica da Globo por seu papel no golpe de estado de 2016, que abriu espaço para a ascensão do bolsonarismo – fenômeno que hoje ameaça o grupo de comunicação. Desde que chegou ao poder, Jair Bolsonaro tem adotado postura hostil à mídia tradicional e tem estimulado o crescimento de grupos rivais, como a CNN, aparentemente ligada ao empresário Edir Macedo.
Em seu texto, o colunista do Globo também argumenta que não faz sentido isolar o PT, dada a sua expressividade na sociedade brasileira. “Este agrupamento político, talvez o mais forte e sustentável da história partidária brasileira, tem que ser readmitido no debate nacional. Passou da hora de os petistas serem reintegrados”, diz ele, que não menciona a devolução dos direitos políticos de Lula. Ascânio também afirma que “o ódio ao PT não faz mais sentido”.
Foi este ódio, semeado pela Globo e outros meios de comunicação, que degenerou no bolsonarismo, um fenômeno que envergonha o Brasil aos olhos do mundo e que ameaça a própria Globo.