Conhecido como “Gringo”, Leandro da Conceição Santos Fonseca, de 25 anos, é apontado como líder da facção Bonde do Maluco (BDM) em Itinga. Preso, Gringo continuou a exercer o seu poder de dentro da penitenciária. Ele, que é investigado pela 27ª Delegacia Territorial (DT) como autor ou mandante de metade dos crimes ocorridos na área em 2016, ocupa o papel de “frente” dentro do sistema prisional.
O exemplo de Gringo mostra como o poder paralelo dentro das cadeias baianas se estabeleceu de forma organizada. De acordo com o Sindicato dos Servidores Penitenciário da Bahia (Sinspeb), o líder das organizações criminosas dentro dos presídios é conhecido como “frente”. Além dele, existem os “soldados” – que prestam a segurança do “frente” e os “couro de rato, ou fariseus”, que fazem o “trabalho sujo” dos grupos.
Segundo o Sinspeb, o “frente” é um preso que, com a ajuda de outros apenados, se estabeleceu como líder. Para o “frente”, são dados poderes informais de gestor dentro das unidades.
“O ‘frente’ detém o poder de vida e de morte sobre os demais presos. Mais grave ainda, através do seu exército armado e drogado, pratica todo e qualquer crime dentro das unidades prisionais cotidianamente, citamos como exemplo: sequestros, extorsões, estupros, agressões, espancamentos, escravidão e assassinato. A maioria desses crimes são denunciados por vítimas que por não mais suportarem as agressões, se arriscam em um último gesto de desespero, tendo em vista que conhecem os riscos decorrentes da denúncia”, afirma, ao completar:
Foto: Divulgação / Sinpesb – Soldados fazem proteção do “Frente”
“É comum internos ‘passarem o portão’ que é o ato de fugir do convívio dos pátios, isso acontece quando o preso vê a oportunidade de pedir socorro aos agentes, normalmente no horário do fechamento da cadeia, entretanto não se limita a horários, pois passam o portão a qualquer momento oportuno. Isso acontece por não terem mais como pagar aos ‘frentes’ pela sua sobrevivência ou mesmo convivência”, diz o sindicato.
Como toda estrutura de poder, o “frente” precisa de apoio. Quem fica responsável por fazer a proteção do “frente” são os “soldados”. Estes, geralmente, andam armados e garantem que o chefe não seja atingido por rivais.
O trabalho de executar inimigos, assumir apreensões de drogas, armas e celulares fica por conta do “couro de rato”, também conhecido como “fariseu”. Este preso, segundo o Sinspeb, é mais pobre e executa esses “serviços” em troca de dinheiro e proteção nas unidades.
MAPA DE FRENTES – A Sinspeb revelou um verdadeiro mapa dos “frentes”. Segundo o sindicato, em cada ala de cada unidade prisional baiana existe um “frente”, que está sob autoridade de um líder maior ou chefe dos frentes, a exemplo da facção, Comando da Paz, “CP”, em que os “frentes” obedecem a Cláudio Campanha, líder geral desta facção. Campanha está preso, mas não há informações da unidade prisional onde ele está. Outro exemplo é o de Genilson Lima da Silva (Perna); líder da facção Caveira, que, segundo o Sinspeb está presente em todas unidades prisionais do estado com seus “frentes”, também recebendo ordens de “Perna”. Também não há informações sobre a unidade em que ele está preso.
Segundo o Sinspeb, a facção de maior quantidade de internos é o BDM.
O líder da CP no pátio do Presídio de Salvador ameaçando um rival da BDM que está no “seguro”, ala superior destinada aos estupradores, mas que estão sendo colocados rivais dá CP por conta da reforma do prédio anexo.
AMEAÇAS – Segundo o sindicato, comumente os agentes tentam disciplinar os presos, mas são “encurralados” e sofrem pressão dos apenados.
“Surgem questionamentos como ‘seu agente, o senhor mora em tal lugar, não é?’, ‘ na rua tal, é isso mesmo?’. Isso é uma forma de intimidar”, aponta o sindicato.
Procurada a Seap, no entanto, não recebeu resposta sobre os questionamentos. Prepostos da secretaria informaram que os esclarecimentos só seriam dados nesta terça-feira (17).
Fonte : Bocão News