Com a promessa de fornecer algo novo para os usuários, fundador do Orkut fala sobre conexões reais e proteção de dados em anúncio do retorno.
Dias após a internet ser tomada por informações sobre a compra bilionária do Twitter, o retorno do Orkut se tornou um dos assuntos mais comentados entre os internautas. Sucesso nos anos 2000, a rede social conquistou mais de 300 milhões de usuários ao redor do mundo ao longo dos seus 10 anos de funcionamento.
A possível volta da rede foi anunciada através da reativação do site oficial com uma mensagem do fundador, o engenheiro turco Orkut Buyukkokte. No anúncio, é possível ler algumas críticas direcionadas à realidade atual das redes sociais. “Nossas ferramentas online devem nos servir, não nos dividir. Eles devem proteger nossos dados, não vendê-los. Eles devem nos dar esperança, não medo e ansiedade. A melhor rede social é aquela que enriquece sua vida, mas não a manipula”, alerta o fundador do Orkut.
Com a Lei Geral de Proteção de Dados ou LGPD, em vigor desde 18 de setembro de 2021, as empresas passaram a ser obrigadas a informar de maneira clara e transparente o processo de utilização, armazenamento e preservação dos dados de seus clientes, isso vale também para as redes sociais sobre a responsabilidade em relação ao uso de dados pessoais dos seus usuários e transparência nesse processo.
Mas na prática isso funciona? De acordo com o advogado Leonardo Britto, especialista em Crimes Virtuais e Cibernéticos, a LGPD deveria funcionar como uma diretriz para todas as organizações, independentemente do segmento, mas a fiscalização ainda deixa a desejar. “A LGPD não tem aplicabilidade ainda, existe a lei, mas não temos um processo de monitoramento que garanta a sua eficácia. Por exemplo, sabemos o que tem que ser feito, mas as punições ainda não estão explícitas, nem multa, nem tempo de reclusão”, pontua.
A ineficiência da LGPD pode ser vista, por exemplo, na comercialização ilícita de dados sensíveis. De acordo com o relatório “Dox, roubo, revelação. Onde seus dados pessoais vão parar?”, investigação realizada pela empresa de cibersegurança Kaspersky, criminosos conseguem comprar informações pessoais por apenas US$ 0,50 (cerca de R$ 2,50). A pesquisa mostra ainda que com US$ 6 (cerca de R$30) é possível ter acesso a passaportes escaneados ou detalhes de cartões de crédito, entre outros dados.
Como o usuário pode se proteger?
De acordo com Leonardo Britto, um passo fundamental para a quebra definitiva desse mercado de informações pessoais seria uma educação para uso da internet. “Infelizmente os usuários não são ensinados a ter uma presença segura nas redes sociais, seria interessante que existisse uma educação para uso dessas plataformas, tanto em escolas como em faculdades”, alerta o especialista.
O Dr. Leonardo Britto pontua ainda que, mesmo na ausência dessa orientação específica, os usuários podem utilizar outras ferramentas para aumentar a proteção das suas redes e consequentemente dos seus dados. “Além da função de autenticação em dois fatores disponíveis em grande parte dos aplicativos, é possível utilizar programas que aumentam a segurança do acesso”, explica.
Os aplicativos de autenticação funcionam nos sistemas operacionais mais comuns e possibilitam proteção redobrada aos dados de usuários. Funciona basicamente como as verificações fornecidas nos próprios aplicativos, mas geram códigos extras de confirmação, que configuram uma camada a mais de segurança.
Como o Orkut pode fazer diferente?
O fato de o Orkut enfatizar que fará algo diferente do que temos atualmente, se aplica apenas às funcionalidades da plataforma, pois em relação a proteção de dados as diretrizes são as mesmas para todas as redes sociais. Segundo o advogado Leonardo Britto, “dizer que vai fazer algo diferente não é tão possível quanto parece, principalmente quando se trata de proteção de dados. É uma instância muito complexa e mesmo com a LGPD não temos como garantir 100% essa proteção”, comenta o especialista em crimes virtuais e cibernéticos.
Leonardo acredita que o Orkut pode trazer uma nova experiência para o usuário em relação a sua presença nas redes, mas que isso não é garantia de um bom tratamento de dados. O advogado reforça que “é preciso criar mecanismos que deem eficácia à lei. Atualmente o processo de investigação sobre o descumprimento da lei só é feito através de denúncia e ainda assim não temos documentado e nem aprovado as diretrizes de punição, por exemplo”, explica.
Por enquanto não foram divulgados detalhes sobre o retorno do Orkut e como funcionaria a proteção de dados citada pelo fundador no texto em que anuncia a volta da rede social. Mas o que se sabe até o momento é que a espera por algo novo que proporcione outras relações no âmbito virtual, sem perder a essência do que é real, e que reacenda as vivências dos anos 2000, é a grande expectativa dos usuários com a rede.