Meu nome é … sou pastor e no dia 25 de janeiro de 2019, farei 30 anos de ministério, quando assumi a primeira igreja.
Olhando pelo retrovisor da vida, lembro de muitas coisas que vivi, muitas alegrias e muitas, muitas tristezas e decepções.
Hoje lembro do meu tempo de jovem na Assembleia de Deus na Capelinha, (1983 a 1989) igreja que hoje, se visitá-la, serei recebido com uma certa expectativa e desconfiança, simplesmente por pertencer a outra convenção. Meus amigos, muitos deles hoje pastores, dentre os quais destaco os seguintes ministros, Carlos Alberto (meu irmão), Gilson Muniz, Ivonilson Santos Santos, Eliel Barbosa Teixeira Barbosa (foi o regente da mocidade) Tito Barbosa, Miguel Arcanjo (não sei se é pastor), Edinalvo (o profundo)… Também estes que, não sei qual a ocupação ministerial hoje, Jeremias Ferreira, Sérgio, Djalneto, Ocimar(In memoriam), Ronaldo (hoje afastado da igreja), “Cuíca” – sempre cantava os hinos de Cícero Nogueira, dentre outros.
Neste tempo, conheci e fiz vários amigos de outras congregações em Salvador, amigos que tenho alegria em lembrar deles: Alberto Góes, Jessé Sodré, Israel Moreira (in memoriam), Paulo Lima, Jailton De Jesus Cerqueiran de Jesus Cerqueira, Abílio Santana…
Como todos eles, vim de uma família muito carente, com amigos “do mundo”. Ao converter-me, passei a me relacionar com estes e outros novos e queridos amigos, e agora irmãos.
Desde a minha juventude na igreja, sempre alguém tinha que me alfinetar ou atacar; talvez, se fosse de uma família abastarda, o tratamento seria diferente, pois era o que víamos naquele tempo.
O meu primeiro cargo na igreja foi o de arrecadador de ofertas; cargo pelo qual sofri o primeiro ataque, quando alguém criticou o pastor Evilazio Bastos por me nomear para tal, dizendo que o pastor não deveria confiar este tipo de cargo a quem veio do mundo e tão jovem. Tinha 15 anos quando me converti. Vivíamos sempre no templo, envolvidos com o Círculo de Oração e vigílias. Por várias vezes, dormíamos no subsolo da igreja, pois a nossa amizade era inseparáveis. Isso até levou um certo pastor, o que assumiu a então congregação da Capelinha após a nossa ida ao campo, reclamar e dizer que os jovens bagunçavam…
Ainda criança, já conhecia a minha amada e querida esposa, Luciene Menezes, com quem estou casado até hoje.
Vários pastores influenciaram a minha vida cristã: Dermeval Cerqueira, era o pastor local e vice da Igreja em Salvador na época, e me batizou. Evilasio Bastos, Delmiro Silva e Davi Brito, na sua ordem, foram os meus pastores locais.
Martinho Damião Soares (Im memoriam) , cuidava dos novos convertidos, dentre os quais eu. Procurava participar dos eventos em Salvador e com muita alegria, buscava sempre ouvir as pregações dos pastores Juarez Ferreira Machado, Epifânio Alves, Otávio Luis de Almeida Rendeiro… Este foi o meu mentor, a quem eu louvo a Deus por ele ter sido o meu “Gamaliel” nos meus primeiros passos ministeriais.
Durante a nossa caminhada ministerial, conheci pessoas que, sinceramente, poderia não ter conhecido. Mas, tais pessoas foram nossos “espinhos na carne”, e que indiretamente, nos motivaram a buscar e depender mais de Deus.
Passei por várias traições, frustrações, decepções. Cometi muitos erros; os acertos deixo com Deus.
Hoje, após 30 anos de ministério, pergunto, será que valeu a pena? Se não fosse pastor, o que seria hoje? Aconselho a todos os que desejam o episcopado, orem, chorem, gemam, e pense bem se é isso o que Deus e você quer.
Será que valeu a pena, deixar de ser um simples membro da igreja e entrar no ministério? Será que valeu a pena, reduzir cerca de 60% do nosso ganho no trabalho secular e receber a manutenção da igreja? E as feridas feitas por quem você cuidou, chorou, resgatou e até arriscou a vida para depois lhe dar um adeus e de mão fechada. Valeu a pena?
Na primeira cidade que assumi, Aratuípe -BA., alguém do ministério local (Nazaré) deixou claro que seria um fracasso a minha ida para lá, dizendo: “Daqui a três meses ele volta”. Fui mudado com um ano deixando um saldo de crescimento numérico e financeiro. Será que valeu a pena ser apresentado três vezes para o presbitério e os “donos” da igreja dizer não, com a única desculpa de ser um obreiro novo? E a decepção de ser convidado por um pastor presidente de campo, para socorrê-lo em um dos subcampo, com promessas de salário dobrado e depois descobrir que era apenas uma falsa promessa? E ainda persistir em fazer a obra de Deus e depois por não aceitar fazer do púlpito, palanque político, o que é bem comum hoje, ser difamado e insultado? Será que valeu apena?
Persistir em continuar no ministério pastoral após tragédia, tentando fazer o bem e mesmo assim, angustiado e decepcionado, persistir? Será que valeu a pena? E quando sem nenhum motivo, simplesmente alguém se levanta e se torna seu inimigo, arregimentando grupos para oposição ministerial? O que fazer quando as pessoas que você ajudou, ver a injustiça lhe atingindo e se colocam ao lado dos outros, com medo de perder o apoio local? Mesmo sabendo que em três anos, o trabalho cresceu em todos os sentidos mais que os dois últimos pastores juntos? Será que valeu a pena continuar?
Diante de lutas e desafios no campo e em pleno crescimento, ai você recebe um resultado de um exame que a sua esposa está com câncer de mama, e precisa mudar para Salvador para iniciar o tratamento, e depois de muito clamor, jejum e oração, o novo resultado dos exames é que ela nunca teve câncer, vendo assim a mão de Deus, e ai um dos colegas, para agradar a liderança convencional da época, diz que você inventou uma doença para mudar para Salvador? Valeu a pena insistir?
Valeu a pena continuar trabalhando como vice de um setor e a igreja e ministério local quer comemorar o seu aniversário e o seu pastor setorial não permite? E depois isso se repete novamente em outro setor, com outro presidente setorial? E você continua fazendo o que Deus lhe chamou para fazer? Vale apena?
E depois de ver alguém muito querida e amada, passar por um abuso e depois nada acontece, e ainda recebe apoio presidencial, é de doer o coração. Valeu a pena?
Após 6 anos em Salvador, com a esposa trabalhando para o Estado, as duas filhas empregadas, e com uma renda familiar folgada e ter que ir para o campo e reduzir em 40% da renda familiar? Valeu a pena? Tomar posse de um campo em dívida, conflito e escândalo, e ainda assim continuar trabalhando, pagar as dívidas, pacificar todos e receber de Deus um crescimento que nunca houve no campo, com muito batismo, triplicar a renda e depois ser tirado por causa de perseguição e política eclesiástica? Valeu a pena? Será que valeu a pena ver seus “amigos” e “irmãos” lhe abandonarem na hora mais difícil de sua vida ministerial? Ver a maioria ficar do lado mais forte? Valeu a pena ver o seu nome falado de casa em casa, por um mercenário, somente por causa do novo campo dele?
Conseguiram colocar na cabeça de muitos que eu sou uma doença e devem ficar longe de mim. Ainda hoje, muitos que cuidei, batizei, ajudei…, se esquivam de mim. Mas, qual foi o meu pecado? Adultério? Roubo? Homicídio? Abuso sexual? O meu pecado foi debater política eclesiástica, foi não concordar com os ditames presidencial da época, e pertencer a outro grupo. Este foi o meu pecado, envolver-se em política eclesiástica do lado mais fraco. E isto para alguns é pior que o adultério, roubo ou assassinato.
Sabe o que é ouvir sua liderança convencional dizer:”Hoje agente mata e enterra Jorge Nilson”. Ouvir também ameaça dizendo que é melhor ir embora da cidade?
Neste período, só recebi a visita de dois pastores, Edivaldo Marques de Feira de Santana e do pastor Davi Lima. Agradeço de coração pelo apoio fraternal durante este tempo. Só Deus sabe como o abraço de vocês me ajudaram. Recebi alguns telefonemas de outros, se queixando do tratamento que recebi, mas só ficou nisso mesmo. O pastor Álvaro Reis me ofereceu apoio financeiro, mas não quis receber. Outros, que se diziam amigos, vieram várias vezes na cidade, sabendo onde moro e não passam para ver se estou bem, se estou vivo. Ainda hoje, encontro alguns ex-colegas convencionais e me dizem, pode aparece a qualquer hora lá EM CASA; pode dormir, comer, descansar, mas LÁ EM CASA. Ou seja, “não posso lhe dar apoio ministerial, não posso lhe dar a palavra para ministrar na igreja, pois somos proibidos e tememos as represálias. O que aconteceu contigo, pode acontecer comigo”. Vale a pena continuar?
Vale a pena continuar vendo um ministério pastoral apodrecido e contaminado? Vale a pena, depois de 30 anos de ministério, ver igreja sendo tratada como negócio e não como um rebanho a ser cuidado? Ver pastores sofrendo represálias por não pensar do mesmo jeito? Pastores sofrendo para construir, para cuidar da saúde da família, para se manter no campo, e outros ganhando mais que o PRESIDENTE DA REPÚBLICA?
Não será difícil alguém considerar essa reflexão como um desabafo. E se for? Somente pastor conhece a cabeça de outro pastor. Os maliciosos verão esta reflexão um pouco extrema, mas creio que muitos pastores se identificaram com ela.
Dentre muitas coisas que aprendi nesta jornada ministerial é que, “Nenhum homem, tendo posto a mão no arado, e olhando para trás, é apto para o reino de Deus”.
Lembro quando os pastores Itamar Fernandes de Jesus e Ismael Fernandes de Jesus foram para Moçambique, no continente africano. Já se passaram 20 anos e eles continuam lá. Raríssimos pastores querem fazer o que eles fazem, mas digo-lhes, o trabalho que eles fazem, o sofrimento que eles passaram e passam, não se compara com o que passamos aqui. Lá a luta é mais externa, o inimigo é conhecido. Aqui, lutamos por posições que nos matam a cada dia, e sem recompensa. Se nós pastores buscássemos apenas cumprir a nossa missão, que é pastorear o rebanho de Deus, At. 20:28, sofreríamos com recompensa, mas ao nos envolvermos com picuinhas ministeriais, ambições e posições, enfrentaremos monstros, cruéis, lobos devoradores.
ERREI, e errei muito em confiar nas pessoas, em confiar em alguns líderes. Eles são humanos, eles erram. Nós erramos. Porém nada justifica ser prepotente, arrogante e presunçoso. Jesus disse: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração.
30 anos se passaram e digo, não tenho riqueza, não tenho mansões, não sou perfeito, tenho poucos amigos, tenho marcas, tenho erros, tenho acertos. Aprendi com os meus erros e com os dos outros. Tenho 52 anos, ainda tenho muitos planos, apesar de alguns que sonhava, não realizarei jamais. O tempo passou muito rápido, fiz pouquíssimo pra Deus, e ainda me pergunto: Valeu a pena?