Informa o Estadão:
O ex-juiz federal Sergio Moro, futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, trouxe para auxiliá-lo nos trabalhos de transição de governo a delegada da Polícia Federal Érika Marena, que atuou nas operações Lava Jato e Ouvidos Moucos. Na primeira, a delegada teve papel central no início da apuração do escândalo de corrupção e lavagem de dinheiro na Petrobrás; na segunda, ficou marcada por ter feito o pedido de prisão do então reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, que se suicidou menos de três semanas após ser preso.
Os nomes de Erika e de Rosalvo Ferreira Franco, ex-superintendente da PF no Paraná, foram confirmados nesta segunda-feira, 19, por Moro, como integrantes da equipe de transição ministerial e devem fazer parte do Ministério da Justiça e Segurança Pública. A ida de Erika para a pasta foi antecipada pela Coluna do Estadão na sexta-feira, 16. A delegada chegou a ser citada como possível escolha para a Diretora-Geral da PF, mas o principal cotado para a função é o superintendente da PF no Paraná, Maurício Valeixo, amigo de longa data de Moro
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Retomo
Querem que eu diga o quê?
Luiz Carlos Cancellier de Olivo, então reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, foi preso no dia 14 de setembro do ano passado, acusado de chefiar uma “ORCRIM” (organização criminosa) que atuava na instituição e que teria desviado R$ 80 milhões. Vestiu uniforme laranja, foi algemado e teve os pés acorrentados. Solto, ele se matou 18 dias depois, jogando-se do 7º andar de um shopping em Florianópolis. A leitura de 6 mil páginas do inquérito e 800 do relatório da PF leva à seguinte conclusão: nada existe contra Cancellier. Para se ter medida do absurdo, os R$ 80 milhões que teriam sumido representam a soma de verbas que a UFSC recebeu ao longo de 10 anos. As acusações que há contra o reitor assombram pela fragilidade.
E o que aconteceu com Érika Marena, a delegada da PF que conduziu o inquérito e os métodos que levaram ao suicídio de Cancellier? Nada! Depois de uma sindicância, chegou-se à conclusão de que ela não fez nada de errado. Foi transferida para Sergipe. Sem uma lei decente que puna abuso de autoridade — e disseram que isso seria um atentado à Lava Jato —, nem o suicídio em massa levaria a uma mudança de métodos. Agora, ela vai ser braço-direito de Sérgio Moro.
Um detalhe perverso do magnífico trabalho conduzido. Como os ditos “investigadores” nada encontraram contra o pai, então os valentes resolveram assombrar o direito romano e foram pra cima do filho. Desde aqueles tempos se considera que as culpas, ainda que efetivas dos pais, não recaem sobre os filhos. Não nestes dias. Mikhail Cancellier, hoje professor da UFSC, foi indiciado por suspeita de que seu pai fez um repasse irregular para a sua conta quando ainda era estudante. Total da bolada? Ao longo de 2013, R$ 7.102, totalizados em três depósitos! Só o terceiro deles, uma fração disso, está respaldado em algum fio de suspeita, ainda assim ridículo. E o comando da PF nada faz para coibir esses espetáculos de truculência.
E não pensem que a coisa parou por aí. Um professor e o reitor da UFSC acabaram sendo investigados, creiam, porque participaram de manifestações em defesa da memória de Cancellier. Pretexto: faixas expostas durante as manifestações teriam atacado a honra da delegada e de outras autoridades. A coisa acabou indo para o arquivo. Mas ficou a cicatriz da truculência.
Ao fazer tal escolha, Moro está dizendo que seus aliados estão acima do erro. E também da vida e da morte.
P/Reinaldo Azevedo