Por Marcelo Manzano, no site da Fundação Perseu Abramo:
Passados apenas três dias do desfecho eleitoral, as declarações desastradas de Bolsonaro e de seus assessores mais próximos já provocam preocupações em diversas áreas, em especial no que tange as relações comerciais do Brasil com seus principais parceiros.
Ao fazer questão de manifestar sua simpatia especial por tudo que cerca a terra de Tio Sam, Bolsonaro tem conseguido azedar o humor com parceiros comerciais estratégicos, para os quais somos grandes exportadores ou dos quais importamos bens e serviços fundamentais para a nossa produção.
A China, por exemplo, que desde 2009 se tornou o nosso maior parceiro comercial e com quem o Brasil mantém uma balança de comércio bastante favorável – apenas nos primeiros nove meses de 2018 já obtivemos um saldo positivo de 20,4 bilhões de dólares (40% do total) – manifestou, por meio da sua mídia oficial, o repúdio às declarações do capitão boquirroto, alertando para o equívoco econômico que resultaria de um eventual alinhamento preferencial entre Brasil e Estados Unidos.
Outro caso que chama atenção é o da relação com a Alemanha, o maior parceiro comercial do Brasil no bloco europeu. De acordo com reportagem publicada pelo portal Deutsche Welle, a diplomacia germânica está receosa com as declarações do presidente eleito e deverá aguardar algum tempo para se posicionar em relação a eventuais aproximações comerciais com o Brasil, estremecidas desde o processo de impeachment da presidente Dilma. À luz do que dizem diferentes lideranças do atual governo alemão, um populista de direita no maior país da América Latina será um grave sinal de retrocesso na geopolítica do continente.
Por fim, ao agendar sua primeira visita como presidente eleito ao Chile e não à Argentina – quebrando uma tradição histórica de reciprocidade entre Brasil e Argentina – Bolsonaro dá outro péssimo sinal ao mais importante parceiro comercial Brasileiro no continente sul-americano. Com a Argentina não apenas mantemos significativos superávits comerciais (quatro bilhões de dólares entre janeiro de setembro de 2018) como também é a este vizinho que destinamos boa parte de nossa exportação de produtos industriais de maior valor agregado, o que implica um tipo de comércio qualitativamente bem superior àquele que realizamos com a maior parte dos países desenvolvidos.
Mas Bolsonaro e seu núcleo duro parecem não ter muita noção de como se movimentar nesse intrincado tabuleiro da diplomacia externa. Resta torcer para que seja tão somente o cacoete bravateiro da campanha que ainda anima o futuro presidente do país.