Nenhum dos grandes jornais, até agora, percebeu o potencial de mobilização com o fato de que ao menos oito crianças brasileiras, com idades entre seis e 17 anos, estão presas nos Estados Unidos, em abrigos semelhantes a campos de concentração, porque seus pais foram pegos em situação de imigração ilegal no país norte-americano.
Samuel Wainer, Paulo Bittencourt, Assis Chateaubriand ou Julio de Mesquita, há 50 anos, teriam agarrado como bandeiras de seus Última Hora, Correio da Manhã, Associados ou Estadão e estariam mandando correspondentes para achar, fotografar e entrevistar os meninos e meninas enjaulados pela política migratória de Donald Trump.
A diplomacia brasileira, desafiada pela mídia, estaria exigindo a imediata repatriação das crianças e de seus pais e eles seriam recebidos aqui por um mar de câmeras e microfones. Choveriam ofertas de emprego para os emigrantes frustrados de grandes empresas, interessadas no marketing espontâneo e as lágrimas dos pais inundariam as televisões.
Mal e mal, porém, temos chamadas pequenas, anódinas, salvando-se esta, ao menos em pé de página, de O Dia.
Já nem se fala no sabujismo de não criticar o “grande irmão do Norte” mesmo diante de situações vexatórias como esta, apenas mais uma no mar de monstruosidades chauvinistas dos EUA na gestão Trump. Mas nem mesmo sensacionalista esta pretensiosa mídia brasileira consegue ser.
Não há uma manchete garrafal, nenhum editorial indignado, nenhuma cobertura especial, que fica reservada para o corte do “miojo” da cabeleira de Neymar Jr e para a tal carta da CBF para a Fifa exigindo a falta sobre Miranda no gol da Suíça.
O “quarto poder” brasileiro vai cada vez mais se aproximando dos outros três, que atuam, respectivamente, nos padrões Temer, Centrão e Carmem Lúcia, numa mediocridade e genuflexão sem tamanho.
Cuba, a quem gostam tanto de criticar, moveu mundos e fundos para resgatar um criança levada contra a vontade do pai para os Estados Unidos e, aqui mesmo, não se economizou espaço e tempo para fazer o mesmo por um menino, filho de norte-americano, que era mantido pelos avós, influentes no Judiciário, longe do pai.
Crianças presas, meu Deus, pais e mães separados por nove meses, como registra o Estadão, discretamente. Drama para ninguém botar defeito; “mundo cão”, escândalo, comoção. Mas age-se como se estivessem falando de um caso de simples burocracia.
Guardaram toda a sua indignação moralista para adular os rapazes da Lava Jato
Fernando Brito