Por Bajonas Teixeira,
Ao retratar o que ocorreu em Curitiba, o jornalismo da Globo do Paraná deixa muito claro como funciona o sistema de manipulação dos fatos pela emissora.(Veja o vídeo da Globo do Paraná)
Notícia da Globo diz que “um homem de 39 anos foi baleado no pescoço em Curitiba na mesma rua onde apoiadores do ex-presidente Lula estão acampados desde a prisão dele no dia 07 de abril”.
- O uso da designação de “homem”, ao invés de apoiador ou manifestante ligado ao acampamento pró-Lula, é muito significativo. Desvincula a vítima e o nome de Lula, tentando evitar um laço de causalidade entre eles. Não foi um apoiador de Lula que foi atingido por um tiro e poderia estar morto nesse momento. Foi um homem, um ente abstrato, que poderia meramente estar cruzando aquela rua, naquele local e aquela hora.
- O tiro não foi dado contra o acampamento, mas meramente se deu “na mesma rua”, o que desfigura a intenção e o sentido político do fato.
- Ao desligar o tiro e o evento, a Globo oculta o crime político, esconde a direita violenta que o praticou. O público aceita que um homem recebeu um tiro, como acontece a toda hora no país. Perde a percepção de que foi a direita fascista, incitada justamente pela permanente ocultação da sua face pela mídia, isto é, pela proteção continuada, que abre espaço a tais ousadias criminosas.
- Ao contrário do empresário que foi fazer provocações na frente do Instituto Lula, num momento de ânimos exaltados, que escorregou e caiu e, após isso, passou duas semanas deitado no CTI da mídia brasileira, exposto em todos os portais, os tiros dados contra Lula (sejam os contra a Caravana, sejam esses agora) serão tratados como balas de festim. Na verdade, como balas ou confeite de festa, já que serão comemorados.
- Continua Globo: “De acordo com testemunhas, uma pessoa ainda não identificada atirou em direção à vítima durante a madrugada de hoje. O homem foi levado em estado grave para uma unidade de pronto atendimento “. Como se vê, o tiro foi quase dado a esmo. Não em direção ao acampamento, mas “em direção à vítima”. Ora, as testemunhas disseram que antes do disparo, por várias vezes, indivíduos gritando o nome de Bolsonaro passaram no local fazendo provocações. Isso não é mencionado. Novamente temos proteção explícita à direita fascista.
- Por último, é só por último, como se estivesse ouvindo a outra parte, a parte acusada, a Globo da voz às vítimas. Informa que a presidente do PT Gleisi Hoffmann “disse numa rede social que o acampamento foi alvo de mais de 20 tiros e cobrou providências”.
A Globo teve nos últimos anos incontáveis chances de promover o entendimento social, desarmar os maquinadores do ódio, e denunciar os promotores de violência política. Não o fez. Ao contrário. Foi desde o começo um decisivo agente de polarização. Derramou toneladas de lava incandescente de calúnias nas costas dos grupos de esquerda, incitou a divisão do país e ficou assistindo de camarote o circo pegar fogo.
Poderia ter feito a denúncia contundente de Bolsonaro e seus seguidores, das repetidas insinuações de tiros e execuções, como foi a última que o facínora fez contra a cabeça de um boneco que representava Lula, justamente em Curitiba, num comício chamado para atiçar os ódios. Nele, nem os apoiadores de Bolsonaro apareceram. Mas a Globo não criticou o gesto do tiro contra Lula.
Hoje, o que assistimos, não é um ataque ao grupo que ocupa o acampamento em Curitiba em apoio a Lula. Mas sim um novo ataque. Outros já ocorreram, com agressões menores, inclusive no dia em que o grupo se dirigia para o local acordado com a prefeitura e sofreu um ataque com barras de ferro.
Que o papel da Globo tanto para criar o clima de divisão e ódio, quanto para desfigurar os acontecimentos e, com isso, em última instância, ocultar os agentes imediatos dos atos terroristas, não seja perdido de vista nem esquecido