O fato caracterizado, entre outros crimes, como prática de racismo, que acabou vitimando a Secretária Olívia Santana da SETRE, de alguma forma, comprova, na minha opinião, a FALTA DE SINTONIA entre o discurso da dita “democracia racial” (cuja matriz remonta à “Casa Grande e Senzala”,de Gilberto Freire) e a própria realidade brasileira, especialmente a realidade da capital baiana e sua Região Metropolitana.
O raciocinio empreendido pela teoria da democracia racial, ou melhor dizendo, O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL, teve lá sua serventia no passsado ao se contrapor a qualquer resquício da grande mentira que foi o chamado racismo científico, que no Brasil serviu, entre outras coisas, pra satanizar os ritos sagrados das religiões de matriz africana e criminalização da cultura afrodescendente, como por exemplo, a capoeira, que era enquadrada no crime de vadiagem na última década do seculo XIX e as primeiras décadas do século XX
Mas como disse, o mito da “democracia racial” teve lá sua serventia em determinado momento da história do Brasil, mas há muito perdeu seu prazo de validade, e ontem (03/02/2018) tivemos mais uma prova disso com o fato ocorrido envolvendo a secretária Olívia e sua agressora.
Se o nosso racismo se caracteriza pelo caráter subliminar. Se nosso racismo, diferente do racismo sul africano ou de outros países de histórico segregacionista, é o racismo disfarçado porque, afinal de contas, não podemos nos declarar racistas. Pega mal.
Isso chega ao limite no momento em que o preto é empoderado. No momento em que a preta é empoderada.
Nesse particular, há de se fazer um destaque porque não estamos falando apenas de uma mulher.
Estamos falando de uma mulher, que além de ser mulher, é negra. Além de ser mulher e negra, ainda é comunista.
Essa mulher, que além de ser mulher, é negra e comunista. Ela ocupa cargo de primeiro escalão no Poder Executivo do Estado da Bahia.
Ela é Secretária de Estado. Como se não bastasse ser Secretária de Estado, ela ainda “OUSA” ser Secretária de uma pasta que não é aquela pasta reservada às lideranças do movimento negro, no caso, a Secretaria de Igualdade Racial.
Que ousadia pra uma mulher negra e comunista, ocupar cargo de primeiro escalão do Governo do Estado, que já teve como chefe o coronel dos coronéis da Bahia, o “cabeça branca” ACM (com todo o respeito aos nossos mais velhos de cabelos brancos).
Quando se diz a palavra “ousadia”, é porque ela (Olivia) ocupa secretaria que não é aquela que foi reservada pra ser ocupada pelo preto ou pela preta. Secretaria geralmente sem verba, sem destaque, sem mídia (apesar de que com Rui melhorou um pouco tal realidade, parece).
A SETRE, secretaria ocupada por Olivia, não é aquela secretaria destinada às lideranças do movimento negro, geralemente pra acalmar a militância na cobrança de suas demandas.
Aí nesse momento, o racismo que era disfarçado e subliminar vai pro espaço e a sua verdadeira face se mostra. É aí que o ódio passa a tomar conta da cena e a tão apregoada boa educação, juntamente com a desfarsatez da cordialidade do brasileiro (aquela descrita por Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil) passam a ser meros figurantes.
Toda a solidariedade à Secretária Olívia Santana, da SETRE e abaixo o racismo e os racistas, assim como os sexistas, homofóbicos e toda a forma de preconceito.
Mas há que se repensar em investir dinheiro público apoiando atividades como o hallie do batom. De algum modo, não há muita surpresa no ocorrido.
Essa tentativa de “conciliação de classe”, expressão usada por alguns militantes marxistas, misturado com o “fazer qualquer coisa pra governabilidade”. Foi justamente isso, grosso modo, o que acabou desencadeando a crise vivenciada pela esquerda no Brasil hoje e o pesadelo do risco de tempos sombrios.
Se a esquerda brasileira aceita está inserida no jogo da democracia representativa; e se a administração pública é avaliada por aquilo que prioriza.
Que a esquerda brasileira, nos espaços de poder institucional, priorize empoderar o povo e a favela.
Júnior Gonçalves
Professor de Sociologia do Colégio Estadual Hermano Gouveia Neto